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Atomico: Setor tecnológico europeu em 2025 vale 15% do PIB

Atualmente, a Europa conta com quase 40.000 empresas tecnológicas com financiamento, comparativamente com menos de 10.000 em 2016, revela o State of European Tech 2025, o relatório anual da Atomico que oferece uma visão geral sobre o estado da indústria tecnológica na Europa.
19 Novembro 2025, 00h02

A Atomico, empresa de capital de risco (Venture Capital), publicou o seu décimo relatório anual, o “State of European Tech 2025”, que traça uma visão geral sobre o estado da indústria tecnológica na Europa.

O estudo defende que “nunca houve melhor” altura para se ser fundador de uma empresa tecnológica na Europa. Pois o continente “tem o talento, a ambição e as ideias para liderar”.

“No entanto, a Europa ainda não se apercebeu de todo o seu potencial no cenário global. É por isso que o décimo primeiro relatório da Atomico sobre o estado da tecnologia europeia, publicado hoje, apresenta um roteiro ousado para a ação, e um apelo à mobilização para impulsionar a primeira empresa tecnológica europeia avaliada em triliões de euros”, diz a Atomico.

O estudo sublinha que com o otimismo a atingir o seu o ponto mais alto da última década e o setor tecnológico europeu a valer agora quase 4 triliões de dólares – o equivalente a 15% do PIB -, os alicerces estão estabelecidos.

Atualmente, a Europa conta com quase 40.000 empresas tecnológicas com financiamento, comparativamente com menos de 10.000 em 2016.

“No entanto, as lacunas estruturais significam que a Europa está potencialmente a deixar de lado triliões de PIB futuro”, sublinha a Atomico que diz que “superar estes obstáculos e acentuar a curva de crescimento europeu não é apenas uma necessidade económica, mas determinará a capacidade de a Europa definir o futuro nos seus próprios termos”.

O relatório identifica quatro ambições fundamentais que definirão o sucesso da Europa e introduz um conjunto de indicadores para acompanhar os progressos realizados.

Tom Wehmeier, Partner e Head of Intelligence na Atomico defende que “a tecnologia já não é um setor, é a força motriz que está a remodelar tudo: a forma como governamos, defendemos, abastecemos as nossas casas, gerimos o dinheiro e prestamos cuidados de saúde. A ‘soberania’ na tecnologia não tem a ver com protecionismo, mas sim com agência e escolha – construir a capacidade, a confiança e o capital para moldar o futuro, mantendo a liberdade de agir de forma independente e liderar nos termos da própria Europa”.

O estudo defende que a Europa deve traçar o seu próprio caminho para a liderança tecnológica global.

Um problema que dificulta consistentemente as ambições de expansão da Europa é a lacuna de financiamento para o crescimento. Desde 2015, as taxas de conversão mais baixas para rondas de investimento em fase de crescimento significaram que nunca foram angariados 300 mil milhões de dólares em financiamento potencial na Europa.

“Além disso, no capítulo sobre Investidores, explorámos que os investidores europeus estão a ter de recorrer a investidores americanos para fornecer outros 75 mil milhões de dólares. Isto eleva a lacuna total de financiamento para a fase de crescimento na Europa para 375 mil milhões de dólares”, refere o relatório.

O investimento de fundos de pensões e grandes seguradoras — que atualmente alocam apenas 0,01% do seu capital de 9 biliões de dólares em capital de risco europeu — é o começo da solução.

“Se analisarmos os fundos de pensões europeus, estes investem atualmente apenas 0,01% do capital em capital de risco europeu – um erro de arredondamento para os 9 biliões de dólares em ativos que gerem. Apesar de um ecossistema robusto de startups locais, os fundos de pensões no Reino Unido e na Irlanda apenas alocam 0,007% dos ativos sob gestão ao capital de risco”, refere o estudo.

Reduzir a diferença entre o investimento em tecnologia na Europa e o PIB

Os EUA investiram 0,53% do seu PIB em tecnologia na última década — embora isto não signifique que este nível de investimento seja um padrão de excelência, serve como uma referência útil para realçar o potencial de crescimento na maioria dos países europeus, revela o relatório.

O documento detalha que a Suécia e o Reino Unido estão próximos, com 0,52% e 0,48% do PIB, respectivamente, reflectindo a sua forte posição como pólos de inovação e tecnologia na Europa. Surpreendentemente, algumas economias de maior dimensão, como a Alemanha e a França, ficam para trás neste aspeto, apesar dos níveis absolutos mais elevados de financiamento de capital de risco. Malta e Chipre também se destacam — as suas posições elevadas no ranking são provavelmente influenciadas pelos seus ambientes fiscais e regulamentares favoráveis, que atraem as empresas para se estabelecerem nestes países.

A Atomico destaca que a diferença aumenta a partir daí, com os países da Europa de Leste (como a Polónia e a Roménia) e do Sul da Europa (como Portugal e Itália) no outro extremo do espectro, cada um com menos de 0,10% do PIB.

“Este ranking reflete as próprias disparidades regionais do continente, sendo necessário um esforço ativo para que estas regiões reduzam a diferença em relação aos principais polos tecnológicos da Europa e de outros continentes”, refere o relatório.

“Para que a tecnologia tivesse captado 0,5% (em linha com os níveis dos EUA) ou mesmo 1,0% do PIB europeu [como a Estónia conseguiu] os níveis históricos de financiamento necessitariam de ter sido 2,5 vezes e 5 vezes superiores, respetivamente. Em termos absolutos, isto equivale a um investimento adicional de 620 mil milhões de dólares ou 1,7 biliões de dólares em tecnologia europeia, respetivamente, na última década”, constata o estudo.

Ambiente regulatório demasiado restritivo

Quase 70% dos fundadores afirmam que o ambiente regulatório da Europa é demasiado restritivo, sendo a fragmentação do mercado, os mercados de capitais e as regulamentações trabalhistas as principais barreiras. Apenas 18% considera o ambiente atual favorável. Pelo que facilitar a criação, o crescimento e a expansão além fronteiras europeias, em grande escala, é um desafio.

A ”melhoria do ambiente regulatório” está entre as três principais mudanças apontadas pelos inquiridos para melhorar as condições de saída para as empresas tecnológicas europeias. O “ambiente regulatório” também está entre os fatores mais citados pelos fundadores para a relocalização.

Como oportunidade a Atomico identifica o impulso político que está a começar a crescer por trás de um ambiente empresarial europeu unificado, com regulamentação harmonizada concebida para as empresas atuais, mas a rapidez e a ambição são fundamentais.

A solução, segundo o State of European Tech 2025, passa por testar e aprender para permitir que os fundadores construam, as políticas devem ser elaboradas como grandes produtos – testar rapidamente, aprender mais rápido, construir confiança e expandir o que funciona.

“A Europa precisa de uma estrutura única para empresas pan-europeias que permita aos fundadores constituir empresas digitalmente, levantar capital e operar sem problemas além-fronteiras em 48 horas”, defende o relatório.

A solução passa ainda por “spinouts que escalam”. A Atomico diz que “é preciso incentivar os inventores a tornarem-se fundadores, alinhar os termos de spinout com os padrões globais e conectar-se aos mercados”.

Quem domina hoje o capital de risco não é quem dominava antes

O poder geográfico já está a mudar. Londres dominou o capital de risco em 2024, com oito dos dez maiores fundos. Em 2025, empresas francesas e alemãs ocuparam todas as posições, exceto três, entre as dez maiores, sugerindo um impulso por trás da integração europeia.

“Ao longo da década, a capacidade da Europa para atrair e desenvolver talentos, desbloquear capital e elevar o nosso nível de ambição transformou-se. Houve um aumento de 10 vezes no montante de capital disponível, construímos um conjunto de talentos de classe mundial em que investir e, crucialmente, assistimos à nossa primeira grande mudança de mentalidade. Há uma maior compreensão pública do empreendedorismo, da atratividade do percurso profissional em startups e mais ambição”, lê-se no relatório.

“Estamos a ver mais startups, ideias mais ambiciosas, criadas para resolver problemas mais complexos. O universo geral de empresas cresceu 4,7 vezes na última década, com tantas empresas em fase inicial como em qualquer outra região e um aumento de 8 vezes no número de empresas em fase de crescimento. A criação de empresas atingiu o nível mais alto da última década e o otimismo está a regressar. No entanto, a competitividade da Europa continua em risco. Fragilidades estruturais estão a custar milhões em valor não realizado e a ameaçar a prosperidade, soberania e segurança do continente”, alerta a Atomico.

“Os EUA investiram 0,53% do seu PIB em tecnologia na última década — embora isto não signifique que este nível de investimento seja um padrão de excelência, serve como uma referência útil para realçar o potencial de crescimento na maioria dos países europeus”, acrescenta.

O relatório “The State of European Tech” é elaborado pela Atomico em parceria com a Amazon Web Services, a Orrick, o HSBC Innovation Banking e a Slush

 

 

 

 


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