A mobilidade elétrica deixou há muito de ser um tema de nicho para se afirmar como uma das grandes prioridades da indústria automóvel. É um pilar essencial na redução da pegada de carbono e no cumprimento das metas ambientais definidas pela União Europeia. Por isso, os mercados europeus estão a investir, uns com mais rapidez e sucesso do que outros, na consolidação da tecnologia que marcará o futuro: a eletromobilidade.

Se olharmos apenas para a dimensão total do mercado automóvel, Portugal não figura entre os dez maiores países da União Europeia. Mas o cenário muda completamente quando analisamos a quota dos veículos totalmente elétricos (BEV) nas vendas totais. Aqui, Portugal surge claramente entre os dez primeiros, superando até países tradicionalmente fortes na indústria automóvel, como França e Alemanha. Os números falam por si: mais de 20% dos automóveis matriculados este ano em Portugal são 100% elétricos. Em países como Itália, Espanha ou República Checa, essa percentagem não ultrapassa os 4% a 6%.

Falar de mobilidade elétrica é também falar de infraestruturas de carregamento. Portugal percebeu cedo a importância deste fator e foi um dos países pioneiros na criação de uma rede de carregamento ampla e de fácil acesso para os condutores de veículos elétricos. Contudo, o sucesso traz novos desafios: a rede que outrora foi exemplar precisa agora de ser modernizada e expandida, com postos mais rápidos e tecnologicamente avançados.

Garantir que a infraestrutura acompanha o ritmo acelerado das novas matrículas de BEV é um desafio enorme. Neste contexto, soluções inteligentes de gestão de carregamentos e tecnologias de carregamento bidirecional poderão desempenhar um papel decisivo para aliviar a pressão sobre a rede elétrica. Mais do que números, há um fator humano que distingue Portugal: a atitude dos consumidores.

Segundo um estudo do Banco Europeu de Investimento, os portugueses estão entre os maiores entusiastas da mobilidade elétrica na Europa. Cerca de 84% dos condutores afirmam que o seu próximo automóvel será elétrico ou híbrido, o valor mais elevado entre os 27 Estados-Membros. O sucesso de Portugal também se explica pelos incentivos fiscais e apoios governamentais, que têm estimulado tanto empresas como particulares a aderirem à mobilidade elétrica.

Os planos do Governo para reforçar significativamente o financiamento destinado à eletrificação em 2025, face a 2024, confirmam esta aposta. E o reconhecimento internacional não tardou: o Grupo Volkswagen escolheu a fábrica da Autoeuropa, em Palmela, para produzir um dos seus projetos mais promissores – o compacto 100% elétrico ID.everyone. Com esta decisão, Portugal entra no restrito grupo de países produtores de veículos elétricos (BEV).

Portugal tem ainda muito por fazer, sobretudo no reforço da infraestrutura e na modernização da rede, mas já conquistou algo mais importante: uma visão coletiva. Empresas, consumidores e governo estão alinhados num mesmo propósito, conscientes de que a mobilidade elétrica é mais do que uma tendência tecnológica; é um compromisso com o futuro.

Tudo indica que Portugal é hoje um dos líderes europeus na mobilidade elétrica. E, como em qualquer corrida de inovação, para manter a dianteira será preciso continuar a acelerar, com investimento, visão e determinação. O futuro é elétrico. E Portugal está, claramente, ao volante.