O Financial Times avança que a Rússia está a reforçar os laços financeiros com a China com a primeira emissão de título soberanos em renminbi. O título “dim sum” de 3 mil milhões de dólares do país ajudará a financiar a guerra na Ucrânia e poderá ser a primeira de muitas emissões.
O Ministério das Finanças russo informou ter emitido 20 mil milhões de renminbi (2,8 mil milhões de dólares) em títulos do governo na moeda chinesa, abrindo caminho para Moscovo aceder às baixas taxas de juro da China para financiamento interno. O ministério vendeu 12 mil milhões de renminbi em obrigações com maturidade em 2029, com um rendimento de 6%, e 8 mil milhões de renminbi em obrigações com maturidade em 2033, com um rendimento de 7%.
“Conseguimos criar uma referência soberana líquida que servirá de guia de preços para os mutuários de empréstimos empresariais e contribuirá para o aprofundamento da cooperação bilateral entre a Rússia e a China no setor financeiro”, disse Anton Siluanov, ministro das Finanças russo.
Mais de metade dos títulos foram comprados por bancos, informou o Ministério das Finanças, que aumentaram a sua exposição ao renminbi nos últimos anos através do financiamento do comércio com a China.
Moscovo pagou mais a longo prazo: oito mil milhões de renminbis, com maturidade em 2033, terão uma remuneração de 7%, ao passo que os restantes 12 mil milhões, que vencem em 2029, têm uma “yield” de 6%. No entanto, estas “yields” são bastante superiores às de outras emissões, como foi o caso do Cazaquistão, que pagou um juro de 3,3%.
Além da Rússia, outros países e regiões têm optado por emitir dívida na China. A Hungria, por exemplo, levantou cinco mil milhões de renminbis em setembro, e o emirado de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, angariou dois mil milhões em outubro – ambos com juros abaixo de 3%.
Segundo o FT, a moeda chinesa tem-se tornado a nova divisa “de facto” para a Rússia, particularmente depois de o acesso a financiamento em euros e dólares ter sido interrompido e depois do congelamento dos ativos estrangeiros do Banco Central russo em retaliação da invasão na Ucrânia em 2022.
O jornal refere que a economia russa enfrenta taxas de juro internas elevadas, superiores a 16%, e uma inflação de 7%, impulsionadas em parte pelo elevado custo de produção de bens que, de outra forma, seriam importados. As sanções internacionais que cortaram o acesso ao financiamento em dólares estão também a restringir cada vez mais as exportações de petróleo e gás que financiam o Kremlin.
O título ajudará a financiar um défice orçamental crescente e “dá aos chineses mais confiança de que a Rússia está alinhada com a sua agenda geoeconómica de internacionalização do yuan”, disse Maximilian Hess, fundador da Enmetena Advisory, uma consultora de risco político, citada pelo FT.
A emissão deverá ajudar a financiar o crescente défice russo e os esforços de guerra. Atualmente, estima-se que cerca de 50 mil milhões de dólares no fundo soberano da Rússia estejam em renminbis. Para as empresas russas, este também pode ser um mercado de financiamento mais barato, uma vez que os juros diretores do Banco Central da Rússia (BCR) rondam os 16,5%, o que torna a emissão de dívida em rublos altamente dispendiosa.
Este também é o entendimento do ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, que espera que a emissão permita “criar um ‘benchmark’ soberano que sirva como guia de preço para as empresas que pretendam emitir dívida”, ao mesmo tempo que “contribui para o aprofundamento da cooperação bilateral entre a Rússia e a China no setor financeiro”.
O FT diz ainda que países como a Indonésia e o Paquistão estão a considerar a possibilidade de emitir obrigações em renminbi no mercado chinês — conhecidas como panda bonds — no próximo ano, mas outros, como a Rússia, contraíram recentemente empréstimos na moeda estrangeira utilizando os chamados dim sum bonds.
A notícia revela que a Rússia pagou taxas de juro mais elevadas do que outros emitentes de dívida offshore em renminbi este ano, como o banco de desenvolvimento do Cazaquistão, que vendeu o primeiro dim sum bond da Ásia Central com um rendimento de 3,3%.
Alguns dos maiores mutuários de Pequim em África e na Ásia — como o Quénia, Angola e o Sri Lanka — também fecharam acordos para refinanciar empréstimos em dólares de bancos chineses em renminbi este ano.
O FT conta também que a China aumentou o seu défice comercial com a Rússia este ano, depois de Moscovo ter restringido as importações de automóveis chineses baratos com tarifas, mantendo as exportações de petróleo, carvão e outros combustíveis para Pequim.
A China comprou quase metade das exportações de petróleo da Rússia desde o final de 2022, incluindo quase 7 mil milhões de dólares em outubro, segundo o Centro de Investigação de Energia e Ar Limpo. Isto ocorreu pouco antes das sanções dos EUA contra a Rosneft e a Lukoil, produtoras de cerca de metade dos barris de exportação da Rússia.
Grande parte dos 50 mil milhões de dólares em activos líquidos do Fundo Nacional de Riqueza da Rússia, uma reserva fiscal, está agora em renminbi.
“Um dia, os empréstimos em yuans chineses na Rússia poderão ser tão grandes como os empréstimos em dólares já foram”, disse ao FT Maximilian Hess, fundador da Enmetena Advisory.
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