(Hesitei ao escrever estas linhas, muito por força da condenação da corticeira em 31.000,00€ por assédio moral. Reservo-me, quanto a tal, para a decisão final de um longo processo, cujo principal mérito é o de demonstrar que a dignidade não tem preço, mesmo para os que acham que o dinheiro tudo compra. Por outro lado, para a maior parte de nós, a campanha para o Parlamento Europeu parece ter sido tão penosa quanto para os candidatos, atendendo à fraca qualidade do conteúdo com que nos decidiram brindar. Eleições europeias volvidas, lamento a abstenção, a que não raras vezes associo o designado “activismo do sofá” e sinto-me aliviada, quer pelo desaparecimento do epifenómeno Marinho e Pinto, ainda que não inteiramente reduzido à sua real insignificância, quer, em especial, pelo facto de o populismo não ter encontrado grandes ecos entre nós. Das poucas vantagens que encontro em sermos um país de brandos costumes é a circunstância de, por esse exclusivo motivo, não embarcarmos com facilidade em discursos de ódio, cujo conteúdo apenas serve para nos demarcarmos do seu transmissor. Foi o que foi feito. Que se tirem daqui as lições e que desapareçam os que nunca deveriam ter ocupado espaço da nossa atenção.)
A propósito de outras lições depois dos acontecimentos já muito batidos em toda a comunicação social e contra todas as expectativas de início de época, o Sporting Clube de Portugal ganhou as Taças da Liga e de Portugal. Quanto mais não seja pelo simbolismo mas também pela sua importância, a última destas vitórias foi essencial para que se coloquem de vez os olhos no futuro, nos centremos no que é essencial e o clima seja de união (união, entenda-se, que não o da Madeira, onde, à semelhança do Arouca, se anuncia um despedimento colectivo). Tive a sorte de assistir a ambas, sendo que a última teve o condão de me emocionar por representar um recomeço e uma redenção, principalmente por confronto com o que sucedeu o ano passado.
Nos últimos meses, o Sporting tem um rosto e não é principalmente o de Frederico Varandas. É o de Bruno, o jogador incansável, o que não desiste. Ver Bruno Fernandes a jogar representa para mim (e para muitos sportinguistas) a certeza de que se pode sempre voltar quer onde se foi feliz, quer onde se foi muito infeliz e fazê-lo de forma mais forte. Lutar por uma paixão, dar o máximo de si e superar os obstáculos são, também, lições que se podem tirar de um profissional que se soube superar e que não se limitam à prática de um desporto.
Por tudo isso, obrigada Bruno Fernandes. Obrigada a todos que nos fazem voltar a acreditar. No futebol e na vida.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.