À primeira vista, o título soa estranho. O que poderá ter a ver o antigo líder parlamentar social-democrata com um programa de paternidade socialista? A ver vamos!
Há poucos dias, os portugueses ficaram a conhecer um segredo que, ao contrário do que se passa no mundo da justiça, não tinha permitido grandes fugas de informação. Daí que, para a quase totalidade dos portugueses, tenha constituído novidade o facto de Montenegro se ter inscrito num curso em França. Uma situação que fez recordar a experiência anterior de José Sócrates e não apenas pela curta distância que separa Paris de Fontainebleau, o novo quartel-base de Montenegro na luta para superar as limitações académicas.
Porém, ao contrário de Sócrates que foi estudar Ciência Política, Montenegro optou por frequentar um programa de gestão avançada para executivos promovido pelo Instituto Europeu para Administração de Empresas. Uma forma de acautelar o futuro. Em sentido amplo, obviamente.
Os resultados obtidos por Rui Rio na liderança do PSD preparam-se para conceder uma nova oportunidade. A chegada à liderança do partido ficou facilitada pela votação na eleição para o Parlamento Europeu e é grande a probabilidade de vir a ser reforçada na sequência das legislativas que se avizinham a passos rápidos. Uma rapidez que não deu tempo a apear Rio logo que a onda rosa provocou o naufrágio laranja.
Voltando à comparação com Sócrates, a decisão de Montenegro apresenta uma vantagem. De facto, Sócrates foi estudar Ciência Política depois de deixar de ser primeiro-ministro. Um exemplo claro daquilo que o povo chama “colocar o carro à frente dos bois”.
Montenegro foi mais previdente. Como ambiciona, desde há muito, liderar o PSD, vai para França frequentar um curso de liderança. Um curso que o capacite não apenas para tomar conta do PSD, mas também para se apresentar como alternativa credível a António Costa e ao PS.
Porém, tal como o programa socialista das Novas Oportunidades não atingiu o sucesso anunciado, também Montenegro pode ver a sua estratégia fracassar. Não no que diz respeito à liderança do partido, mas no que concerne à chegada a São Bento.
De facto, é bem mais fácil desapear Rio do que derrubar Costa. Um político que conseguiu transformar em vitória a derrota e que foi capaz de levar a bom porto uma geringonça impensável e que, a partir de certo momento, ameaçava desarticular-se em todas as curvas e arfava desalmadamente a cada subida.
Ora, as hostes laranja esperam que o curso possibilite a Montenegro não apenas a capacidade para liderar um partido com pouca vocação para a unidade, mas, sobretudo, o conhecimento necessário para ser bem-sucedido no derrube do próximo governo. Uma tarefa árdua. Sobretudo se Costa vier a dispensar a geringonça ou a construir uma maquineta mais ecológica.
Não são conhecidos exemplos de sucesso na liderança da oposição em tais circunstâncias. Por isso não é adquirido que Montenegro aceite, no curto prazo, o papel de Moisés do PSD. Quatro anos representam um deserto muito extenso. A terra prometida assemelha-se a uma miragem.
Nada melhor mesmo do que um curso de liderança. De preferência em formato não compacto.