O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço, denunciou esta quarta-feira que já em maio se sabia da “descoordenação” e “pressão desajustada” nos hospitais Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) e Beatriz Ângelo, em Loures, notando que a pressão não é da segunda vaga.
“Em maio percebeu-se a descoordenação dos meios através das respostas unilaterais e pressão desajustada sobre os hospitais Fernando Fonseca e Beatriz Ângelo em detrimento de uma resposta em rede, diluída por vários hospitais”, disse Alexandre Lourença, numa audição da Comissão Eventual no Parlamento.
“Desde julho que alertamos para a necessidade de termos um plano concreto de respostas”, acrescentou o presidente da APAH, assumindo que os “planos de contingência foram ultrapassados” devido à situação crítica que se verifica nos hospitais de todo o país por causa do combate à pandemia.
“Hospitais devem ter autonomia na sua resposta operacional, mas se não participam ativamente no desenvolvimento de cenários e planeamento da resposta, apenas por mero acaso podem acertar”, apontou na audição conjunta no Assembleia da República.
Alexandre Lourenço disse ainda que “desde cedo manifestámos o nosso compromisso em colaborar com as autoridades de saúde para enfrentar este temível desafio da Covid-19” e que os administradores hospitalares têm realizados iniciativas para fortalecer a resposta do sistema de saúde e a administração dos serviços de saúde.
Ainda assim, o presidente da APAH denuncia que a organização tem “alertado para a falta de solução de doentes internados inapropriadamente”, sendo que em maio do ano passado “um em cada cinco doentes internados não necessitava de cuidados hospitalares”, pedindo então uma maior coordenação de todos.
Alexandre Lourenço apontou ainda que, até ao mês de novembro, ficaram por realizar 10,6 milhões de consultas médicas de enfermagem presenciais de cuidados primários, 23 milhões de dados de diagnóstico na rede do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 119 mil mulheres não têm o rastreio do cancro da mama atualizado, 90 mil mulheres deixaram de ter o rastreio do cancro do colo do útero em dia, 81 mil portugueses deixaram de ter o rastreio do cancro do colo do reto realizado, 1,2 milhões de consultas médicas hospitalares ficaram por realizar, 121 mil cirurgias foram adiadas e 1,6 milhões de episódios de urgência ficaram por atender.
Foi com estes números que o presidente da APAH revelou a pressão no SNS, e pediu então um modelo dual, para que todas as necessidades dos doentes sejam atendidas perante uma nova pandemia.
“As respostas estão fora dos hospitais”, disse, acrescentando que o “limite de recursos não depende apenas dos hospitais públicos ou privados” mas sim “de um conjunto de estratégias hospitalares, daí ser exigida uma coordenação nacional de meios como em qualquer situação de catástrofe”.
“O colapso da rede hospitalar não é, nem nunca foi, uma inevitabilidade”, sublinhou durante a sua intervenção perante os partidos. “Para uma cama ser ativada não basta apenas ter o bem material, são necessários recursos humanos especializados”, disse.
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