No passado domingo, Donald Trump passeou-se com Kim Jong-un durante 53 minutos na faixa desmilitarizada (mas tecnicamente em guerra) que separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul. O encontro havia sido proposto por Trump através do Twitter no dia anterior. “Que bom vê-lo de novo”, disse Kim ao saudar  Trump. “Nunca esperei encontrá-lo neste lugar”. Trump em tweet anterior havia dito: “um acto muito corajoso e determinado”.

Ao passar a linha divisória das duas Coreias, Trump tornou-se no primeiro presidente norte-americano em exercício a pisar solo da Coreia do Norte. A curta passeata continuou com os fotógrafos encavalitados registando o momento. “Grande momento! Grande momento!”, disse Trump. “Coisas tremendas estão a acontecer”, prosseguiu. Quanto às negociações sobre a desnuclearização da Coreia, Trump foi fulminante: “Pressa não é o tema… os desafios são complicados, mas não tão complicados como as pessoas pensam”, numa expressão exactamente igual à que proferiu a propósito das negociações israelo-palestinianas que, como se sabe, estão em ponto morto.

Trump, após o desastre do encontro de Hanói, não tem dúvidas: “Encontrámo-nos e gostámos um do outro desde o primeiro dia e isso é muito importante”. A conclusão deste  “momento histórico” foi a de continuar a falar sobre a desnuclearização, o que não acrescentou rigorosamente nada  ao processo negocial. A generalidade dos especialistas desconfia do empenho de Kim em desistir do programa nuclear, que é uma espécie de garantia de sobrevivência da sua dinastia. É provável que desarticule um ou outro míssil, sob verificação internacional, e mantenha tudo o resto.

Não se sabe em rigor se Trump, ao embarcar nesta artificial procura de falsos momentos históricos para as câmaras e máquinas fotográficas, tem verdadeira consciência do ridículo da situação. Provavelmente encara a diplomacia como um verdadeiro reality  show, à semelhança de outros sectores da governação.

A verdade é que não existe até hoje qualquer progresso concreto na desnuclearização da Coreia do Norte. Ao invés, cada encontro de Trump com Kim apenas serve para legitimar a ditadura norte-coreana e o seu líder. Aquele que era até há pouco um regime ostensivamente isolado pela comunidade internacional recebe hoje em sua casa o presidente Xi Jinping , viaja até Vladivostok para abraçar Putin e estabelece com Seul laços diplomáticos antes inexistentes.

Que importa?  No regresso Trump tweetou de novo: “Após o maravilhoso encontro com Kim Jong-un, pisei o solo da Coreia do Norte, um passo importante para todos e uma grande honra”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.