Donald Trump tornou-se o primeiro presidente dos EUA a atravessar a linha que separa as duas Coreias e a dar alguns passos em território norte-coreano. A seu lado, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no seu tradicional uniforme tipo Mao.

A exemplo de Neil Armstrong quando pisou solo lunar, também agora há quem diga que se tratou de um passo pequeno para o homem, mas grande para a Humanidade. Um passo que muitos não anteviam possível face a desencontros anteriores. Um eufemismo para camuflar a carga ofensiva presente em várias declarações.

Só que a maior constante da presidência de Trump tem sido a inconstância. Uma imprevisibilidade que aponta para que as suas afirmações, num primeiro momento, resultem da pouca reflexão própria ou denotem a influência de conselheiros como John Bolton que vê na bomba a melhor estratégia diplomática.

Em plena luta pela reeleição, Trump precisa de criar uma imagem a nível externo que lhe renda votos no plano interno. Daí os passos na Coreia do Norte. Por isso, o aceitar voltar à mesa das negociações com a China sobre as tarifas aduaneiras.

No entanto, convém refrear as expectativas de quem já considera que Trump dispõe do condão – mesmo dispensando a varinha – de criar o paraíso na Terra. Um manifesto exagero, desde logo porque Trump tem-se mostrado muito mais propenso à criação do que à resolução de problemas. Aliás, quando a inclinação para a segunda vertente surge, talvez seja resultado do trabalho aturado dos conselheiros mais moderados, quando logram convencê-lo de que daí poderá tirar proveito eleitoral.

Voltando aos passos trumpianos no território norte-coreano, reconheça-se que podem abrir caminho para um processo negocial que conduza ao estabelecimento de um Acordo de Paz, pois o que existe atualmente é um armistício datado de 1953. Esse Acordo será um instrumento indispensável para a passagem para o nível seguinte. Aquele que se prende com a questão nuclear. O cerne da problemática da segurança global.

Como nem o acaso é por acaso, tudo isto se passa na semana em que o mundo celebra o centenário do Tratado de Versalhes. Nessa conjuntura, como alguém da parte alemã deixou escapar, não era a paz, mas um armistício, que estava a ser assinado. Hitler e os cerca de 50 milhões de mortos provocados pela II Guerra Mundial não demorariam a reconhecer-lhe razão.

Por isso, agora que a Diplomacia parece ter conseguido criar condições para que o armistício evolua para um Acordo de Paz, exige-se uma boa dose de prudência. Até porque a situação está a ser cuidadosamente controlada do lado norte-coreano. Por isso o país de Kim Jong-un não teve acesso às imagens de Trump no seu território. O grande líder sabe que o discurso interno não é, por enquanto, compatível com qualquer afabilidade para com o inimigo. O ódio precisa de ser alimentado. A pretensa superioridade cultivada.

Face ao exposto, não restam dúvidas que Trump recolocou a zona do Pacífico como o destino manifesto dos EUA. Porém, tal não significa que a política externa norte-americana se torne necessariamente mais previsível. Trump não deixou de ser populista e nacionalista Um tweet pode alterar tudo. Até novo aperto de mão.