A imprensa de ontem dava conta de uma decisão política tremenda (para usar o dicionário do presidente Trump): “Governo reforça CP com novos administradores”. Lê-se que a Administração da dita passará de três para cinco, que os novos são todos do Norte e que “nenhum está ligado a qualquer partido”.
Ficamos entusiasmados por saber do tremendo esforço do Governo na matéria e em particular pela preciosa referência à independência partidária dos novos recursos humanos.
É claro que as almas mais pessimistas, como o meu amigo Fernando Araújo, logo vieram confessar que nunca poderiam adivinhar que a anunciada aquisição de mais material circulante se traduziria nisto. Mas se formos ao fundo do problema era mesmo disto que a CP necessitava.
A notícia é pródiga em pormenores. Ao que parece dois dos novos Administradores “estão ligados ao material circulante” e os restantes são especialistas em “recuperar locomotivas, carruagens e automotoras que estavam encostadas”.
Consta que esta súbita iluminação terá surgido na cabeça do ministro Pedro Nuno Santos e temos que reconhecer que é sábia. Em havendo Administradores concentrados no “material circulante”, os do Norte, e outros, porventura os do Sul, atentos ao material “encostado”, a CP nunca mais será a mesma.
E ninguém contestará que, com esta decisão, o ministro prestou uma “grande homenagem aos trabalhadores da CP (…) que é gente de grande valor”, como a imprensa também nos informa.
Eu que frequento (e enfrento) a CP semanalmente vai para duas décadas, com denodo e boa cara, imagino já os Administradores, os do Norte talvez, de fato-macaco, limpando o suor e o óleo, partilhando com os outros Administradores, ao que tudo indica do Centro e Sul, do número de automotoras desencostadas.
Fico feliz. Restará resolver o incomodativo problema do material humano que se passeia no material circulante ou que, quais basbaques, olha para o material encostado.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.