Nas sociedades modernas, muito mais vinculadas ao conceito de cidadania do que ao de humanismo, em que, cada vez mais, são impostos padrões de normalização em detrimento de modelos de humanização, assistimos à criação de novos direitos e ao declínio de velhos direitos.
Hoje ser cidadão por exemplo, é muito mais importante do que ser pessoa, já que quem perde a nacionalidade deixa de ter a proteção legal do direito internacional e, portanto, passa a ser um marginal a perseguir, de nada lhe valendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Também se normalizaram os maus-tratos e a violência aos mais vulneráveis e nem sequer se contemporiza, muitas vezes, a sua criminalização, como aconteceu em Portugal, ainda nesta legislatura, relativamente aos idosos.
A participação popular cada vez encontra mais bloqueios no modelo das democracias liberais, e embora vivamos a “Era dos direitos”, como defende Norberto Bobbio, nunca o homem viveu com tão pouca dignidade, passando alguns seres humanos a gozar de menos direitos do que aqueles que adquiriram os animais.
As questões de carência de legitimidade e inclusão política abstrata dos atores políticos, assente maioritariamente na exclusão dos mais aptos, confirma a tendência paradoxal das novas sociedades para a cultura dos ausentes. Sendo fundamental identificar os silêncios de muitos a quem nunca foi dada intencionalmente uma oportunidade.
A memória histórica mostra-nos que as grandes crises políticas que fizeram ruir regimes, partiram daqueles que cansados de ser ignorados, decidiram levantar a voz. O facto de começarem a escassear valores comuns a partilhar num mundo cada vez mais globalizado, põe em crise a continuidade do equilíbrio nas relações entre os Estados, e compromete irremediavelmente a realização do ideário humanista que foi tão difícil de alcançar.