O PSD caminha para aquela que será, muito provavelmente, a maior derrota da sua história, com algumas sondagens a atribuir-lhe metade das intenções de voto que o PS terá. A acontecer, será muito mau para a democracia portuguesa, não porque seja suposto os partidos políticos serem eternos, mas sim porque não existe ainda uma alternativa credível ao PSD no espaço político não-socialista em Portugal.
O que nos leva para a possibilidade, impensável há bem pouco tempo, de uma maioria de dois terços dos partidos de esquerda na Assembleia da República. Tal maioria destruiria o equilíbrio que existe desde 1976, colocando a possibilidade de mudar as regras do jogo nas mãos de um dos espectros ideológicos. Seria tão mau para a saúde da nossa democracia como uma maioria de dois terços à direita.
O certo é que, independentemente dos resultados que efetivamente se verificarem, a direita atravessa uma profunda crise que é, antes de mais, de identidade. O que é ser de direita em Portugal? É ser liberal na economia? Conservador ou mesmo reacionário nos costumes? Admirador de Trump, Bolsonaro, Putin, Orban e outros que tais?
Talvez a vitória histórica que se adivinha para a esquerda nas próximas legislativas constitua também uma oportunidade que permita à direita portuguesa fazer reset e encontrar uma nova identidade. Mas uma coisa é certa: a direita só terá razão de ser se for o contraponto da esquerda em temas como os direitos do indivíduo perante o Estado. E sobretudo se souber apresentar as suas próprias respostas a questões como esta: que país queremos deixar aos nossos filhos? Que sociedade queremos construir? Hoje, olhando para o que propõem PSD e CDS, quem consegue responder a estas duas questões?