O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Fernando Faria de Oliveira, admite pôr o lugar à disposição no final de 2019, um ano antes do fim do mandato, sabe o Jornal Económico. Faria de Oliveira faz 78 anos em outubro e já em dezembro de 2018 colocou o lugar à disposição, mas desta vez os associados deverão aceitar a sua saída, de acordo com fontes da banca que pediram para não ser identificadas.
Questionado pelo Jornal Económico, Faria de Oliveira respondeu: “terminarei o mandato [no final de 2020] ou sairei antes do seu termo, de acordo com a vontade e os interesses dos associados e com o propósito que manifestei nesse sentido quando o iniciei”.
A concretizar-se a saída, serão os bancos associados a decidir o sucessor de Faria de Oliveira, na próxima assembleia geral da APB. A instituição tem na sua direção os presidentes do maiores bancos associados. Para além do vice-presidente Miguel Maya, CEO do BCP, a associação tem como vogais o presidente da CGD, Paulo Macedo; o chairman do BPI, Fernando Ulrich; o CEO do Novo Banco, António Ramalho; o presidente não executivo do Santander Totta, António Vieira Monteiro; o CEO da Caixa Agrícola, Lícinio Pina; o chairman do Banco Montepio, Carlos Tavares e Carlos Rodrigues, presidente do BiG.
Segundo fontes da banca, os associados deverão aceitar a saída antecipada de Faria de Oliveira e até já se fala em nomes para futuro presidente da associação que representa o setor bancário. As mesmas fontes dizem que Nuno Amado (chairman do BCP) surge como o banqueiro mais bem posicionado para o lugar, mas até ao momento não recebeu qualquer convite.
A direção da APB, que tem Miguel Maya como vice-presidente, não tomou qualquer decisão em relação à sucessão de Faria de Oliveira, segundo as nossas fontes.
Fernando Faria de Oliveira foi eleito para o terceiro mandato que dura de 2018 a 2020, e sempre foi uma voz crítica da introdução de medidas legislativas que penalizem os bancos portugueses face aos pares europeus, considerando-as populistas. Sempre desempenhou um papel mediático de defesa dos interesses dos bancos no debate público.
No entanto a Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD deu-lhe outro protagonismo mediático, ao ter estado nas páginas dos jornais por ter sido presidente da CGD entre um de janeiro de 2008 até oito de julho de 2013 (cinco anos e meio) – período abrangido pela auditoria da EY. E apesar de no relatório da Comissão não ter ficado imputada qualquer acusação ao ex-presidente da CGD, o assunto foi abordado numa reunião recente da direção da APB. Nessa reunião os associados não manifestaram desconforto em relação à participação de Faria de Oliveira na CPI à CGD, segundo revelou uma fonte.
Banqueiro criticou auditoria da EY à CGD
Foi no seu mandato à frente da CGD que ocorreu a operação La Seda, que gerou perdas para o banco do Estado apontadas pela auditoria conduzida pela EY. Auditoria esta que mereceu críticas do antigo presidente da CGD.
Faria de Oliveira não esteve sozinho nessas críticas à auditoria. Um grupo de cinco ex-gestores da CGD entregou uma carta à CMVM, no dia oito de julho, onde pedem que seja analisada a qualidade da auditoria da EY à gestão da Caixa entre 2000 e 2015. Nesse pedido de análise ao regulador que tem a função de supervisionar as auditoras, os antigos administradores identificam “dezenas de inconsistências, imprecisões e erros”. Os ex-gestores da CGD querem também saber junto do regulador se a EY, enquanto consultora, tem competência para fazer auditorias como aquela que foi realizada ao banco público e que concluiu por perdas de 1.647 milhões de euros em 186 operações de crédito.
Faria de Oliveira surge na CGD associado sobretudo ao financiamento da Artland (La Seda) para a construção de uma fábrica de químicos em Sines, que causou um buraco à Caixa. Do crédito de 350,8 milhões de euros, 211 milhões foram perdidos. A La Seda também representou perdas via posição acionista no valor de 53 milhões. Faria de Oliveira disse então aos deputados na Comissão de Inquérito que o processo de concessão de créditos foi acelerado por vontade política do governo liderado por José Sócrates.
Outra operação que foi abordada pelos deputados na Comissão foi a “operação Espanha” que custou à CGD mais de 582 milhões em prejuízos para além dos valores despendidos em aumentos de capital do BCG, “tendo contribuído de forma relevante para os aumentos de capital que o acionista Estado teve de efetuar na CGD em Portugal e que justificaram os trabalhos daquela CPI”, diz o relatório final.
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