A vida tem destas ironias. Poucos dias depois das notícias sobre o arranque dos processos de vacinação em vários países por todo o mundo, incluindo Portugal, tivemos um choque de realidade com o disparo no número de pessoas infetadas e a imposição de medidas de confinamento tão rígidas como as de março do ano passado.
Este volte-face deve servir para nos lembrarmos que, perante uma pandemia destas, não faz sentido cantar vitória antes de o vírus estar efetivamente sob controlo. Deve também servir para nos consciencializarmos de que não nos é pedido que escolhamos entre a saúde e a economia, pois esta última depende em larga medida da primeira. Se fizéssemos de conta que a pandemia não existe e continuássemos no business as usual (como algumas pessoas pareciam sugerir até há bem pouco tempo), a situação ficaria de tal forma descontrolada – eventualmente com milhões de infetados e um número infindável de óbitos no espaço de um ano – que o impacto na economia seria superior ao que estamos a ter com as restrições em vigor. O que estes longos meses nos ensinaram é que a economia irá recuperar quanto mais depressa a pandemia estiver sob controlo. E, nesse sentido, talvez seja preferível tomar medidas duras do que agir de forma cirúrgica e mais tarde ter de correr atrás do prejuízo. A outra lição a retirar é que esta estratégia só faz sentido se os apoios às empresas forem atribuídos de forma célere.