Primeiro aviso: a publicidade não usa calças, não veste saias, não tem sexo. Segundo aviso: a publicidade é, sim, habitada por talentos, independentemente do género. Feitos os necessários avisos à navegação, até podia ficar por aqui e nada mais acrescentar a esta lógica cheia de lógica e indiscutível.

Mas não, até porque ainda tenho mais algumas coisas a dizer sobre a publicidade no feminino. Ou melhor, sobre os géneros e a publicidade. E talvez até arrisque e vá mais longe, falando, no seu todo, sobre o não reconhecimento dos talentos nas profissões. Porque as injustiças, admitamos, calham a todos. Homens e mulheres, velhos ou novos, qualquer que seja o setor.

É verdade que ainda vivemos numa sociedade predominantemente masculinizada, carregamos nos ombros uma herança de séculos a fio em que a figura suprema do páter-famílias sempre foi exclusiva do homem, sem cerimónias ofuscando a mulher no seu papel social. Mas o mundo pulou e avançou, muitos passos foram entretanto dados para alterar o injusto statu quo e algumas correções de trajetória aconteceram com o avançar dos anos em relação aos ativos humanos do mundo laboral e ao respetivo equilíbrio entre os géneros.

Então o que falta para deixarmos de falar em quotas para mulheres nas empresas, na política e onde quer que seja onde os homens, ao que parece, se mantêm em maioria? A resposta não é simples e muito menos consensual, mas sinto-me tentada a discorrer sobre a questão, mesmo que me colem o rótulo de feminista, que, aliás, não sou. Prefiro que me chamem humanista. E justa. E acima de tudo atenta a quem merece reconhecimento.

Dito isto, em primeiro lugar há que reconhecer o mérito como condição única e determinante para a manutenção de qualquer posto de trabalho. Se uma mulher não é competente para a missão que lhe foi atribuída, então que se tomem medidas, da mesma maneira que, uma vez diagnosticada a incompetência de um homem, devem ser tomadas as devidas previdências.

É aqui que se devem envidar esforços, é neste conceito, o da meritocracia, que temos de nos apoiar e seguir em frente para evitarmos discussões estéreis. Mais do que géneros, acredito em diversidade – de opiniões, culturas, experiências, valências. E há características que são mais femininas do que masculinas e vice-versa e considero que teríamos todos a ganhar se houvesse mais valências femininas, e não sou eu que digo, é o mundo que está a pedir.

E na publicidade, Susana? Como é na publicidade? O que ganharia o setor em ter mais mulheres em cargos dirigentes? De certeza que, por esta altura, são estas as perguntas que se impõem depois de tanta retórica. Poderia recorrer aos chavões habituais e garantir que nós, as mulheres, somos mais sensíveis, atentas e dedicadas, ou mais empenhadas, determinadas e lutadoras em consequência da discriminação de que somos alvo…

Mas não, quero antes de tudo o mais afirmar, sem cerimónias, que o género, meus caros, é cada vez menos um estatuto inquestionável. Palavra de mulher. Que usa saias, mas também veste calças.