Já dizia Frank Underwood, presidente dos Estados Unidos na série de ficção “House of Cards”, que “nenhum escritor que se preze resiste a uma boa história, tal como nenhum político resiste a fazer promessas que não pode cumprir”. Portugal não foge à regra.
Estamos perto das legislativas e por isso as promessas eleitorais já começaram a surgir em catadupa: aumentar os vencimentos do sector público, contratar mais funcionários para o Estado, pensões mais elevadas, aumentar o salário mínimo, baixar o IRS, diminuir o IRC, reduzir o IVA da electricidade e do gás, construir milhares e milhares de habitações para arrendamento, mais dinheiro para os transportes, creches grátis, gratuitidade do ensino superior, uma terceira travessia do Tejo. Enfim, estes são apenas alguns exemplos.
Tudo coisas boas, sem dúvida. Mas será que há dinheiro para pagar tudo isto mantendo ao mesmo tempo a trajectória de consolidação orçamental? Recordo que a dívida pública líquida de depósitos anda na ordem dos 240 mil milhões de euros (mais 11 mil milhões desde as eleições de 2015) e que são gastos sete mil milhões de euros ao ano só em juros. Não deveríamos então procurar resolver primeiro o problema da dívida tornando as contas públicas mais sustentáveis e o próprio Estado mais resistente?
Há, no entanto, quem defenda que as promessas eleitorais são realistas porque resultarão num crescimento económico mais acelerado, o que por sua vez irá gerar excedentes orçamentais mais elevados. Um pequeno detalhe: a economia portuguesa possui um elevado grau de abertura, sendo que a conjuntura externa não está a melhorar.
De acordo com as estatísticas mais recentes, as economias alemã e britânica (dois dos principais motores da União Europeia) estão a encolher. Já as economias dos Estados Unidos e da China (principais motores do mundo) estão a abrandar. Com tantas nuvens, incluindo a do Brexit, será prudente esperar que o crescimento futuro ajude a pagar as promessas do presente?
Apesar da assistência financeira da troika ter ocorrido há relativamente pouco tempo, parece que afinal de contas não se aprendeu nada, o que só contribui para a descredibilização da política.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.