Em 2018, a venda de bens e a prestação de serviços pelas startups portuguesas atingiram os 2,2 mil milhões de euros, valor que correspondente a mais de 1% do PIB. Para este volume de negócios muito contribuíram as exportações, que, no ano passado, se cifraram em 1.121 milhões de euros (1,9% do total de vendas ao exterior). Importa ressalvar que, em 2016, os bens e serviços exportados pelas startups quedaram-se pelos 673 milhões de euros, pelo que, em dois anos, quase duplicaram de valor. Em relação ao emprego, sublinhe-se que, em 2018, as startups criaram 25.084 postos de trabalho, o que representa um crescimento de 24% em relação ao ano anterior (20.271).
Estes números põem em evidência o crescente peso das startups na economia nacional e a notável evolução do ecossistema empreendedor português. De resto, poderia referir outros indicadores que refletem a vitalidade e dimensão internacional do nosso empreendedorismo, como sermos o segundo país europeu onde o emprego tecnológico mais cresceu em 2018 (6,3% face a 2017) ou termos, desde o ano passado, três empresas “unicórnio” com ADN português (Farfetch, OutSystems e Talkdesk).
Não restam dúvidas de que as startups portuguesas criam riqueza, emprego e bem-estar. Logo, é difícil de entender a relativa marginalização ou quase esquecimento do empreendedorismo no debate político atual, de que é exemplo a omissão deste tema durante a campanha eleitoral. Tanto mais que, apesar dos avanços alcançados, não faltam questões pertinentes para o futuro do ecossistema a justificarem discussão política, sendo o período eleitoral um momento oportuno para o fazer. Falo de questões como os estímulos fiscais, os instrumentos de financiamento, os entraves burocráticos, a internacionalização e a relação empresas-academia, que são essenciais ao desenvolvimento do ecossistema.
O impacto público do acolhimento da Web Summit por Portugal e a atenção que é dada a cada edição do evento não chegam para manter o empreendedorismo na ordem do dia. A Secretaria de Estado do Empreendedorismo perdeu-se com a mudança de governo e depois de João Vasconcelos e Ana Teresa Lehmann, que de facto se identificavam com o movimento empreendedor, ninguém mais assumiu no elenco governativo uma agenda para o desenvolvimento do ecossistema. De resto, o Ministério da Economia teve, nestes últimos quatro anos, uma atuação bastante discreta, por contraponto com a omnipresença do Ministério das Finanças.
Seria bom que o próximo governo trouxesse as empresas para o centro do debate político e que o empreendedorismo não fosse tão-só uma “flor de lapela” para usar durante a Web Summit. O ecossistema português precisa de atenção pública e interesse político para atrair talento, capital e parceiros, sob pena de ver comprometida a sua afirmação no espaço europeu.