“A Exposição Universal esteve aberta até ao dia 9 de Dezembro de 1888. O encerramento foi mais singelo que a inauguração: Te Deum na catedral e um acto breve no Palácio da Indústria. Tinha durado duzentos e quarenta e cinco dias e fora visitada por mais de dois milhões de pessoas. O custo da construção ascendera a cinco milhões, seiscentas e vinte e quatro mil seiscentas e cinquenta e sete pesetas e cinquenta e seis centavos. Algumas instalações puderam ser aproveitadas para outros usos. O remanescente da dívida foi enorme e onerou durante muitos anos a Câmara Municipal de Barcelona. Também ficou a recordação das jornadas de esplendor e a noção de que Barcelona, se quisesse, podia voltar a ser uma cidade cosmopolita.”
“A Cidade dos Prodígios”, do espanhol Eduardo Mendoza, publicado pela Sextante, tem duas personagens principais: Barcelona e Onofre Bouvila, um rapaz pobre oriundo de uma aldeia na Catalunha profunda, que chega à cidade em 1887 e obtém o seu primeiro trabalho a distribuir panfletos anarquistas aos operários que trabalham na construção da Exposição Mundial, a inaugurar no ano seguinte.
Enquanto assistimos à espectacular ascensão social de Bouvila, que se vai transformar, mediante métodos não muito ortodoxos (passando, por exemplo, pela venda de armas e pelos negócios imobiliários), num dos homens mais ricos do país, vamos também acompanhando a vida de Barcelona e a sua conversão numa cidade moderna, dinâmica e prodigiosa, no período que decorre entre a Exposição de 1888 e a de 1929, na colina de Montjuïc, cujo fracasso (apenas 200 mil visitantes para um custo de 130 milhões de pesetas) foi um contraponto às melhorias introduzidas na cidade, nomeadamente no que respeita aos meios de comunicação e transporte e às condições sanitárias e saúde pública.
Um período fascinante nesta que é a Barcelona de Picasso, Gaudí e Primo de Rivera, uma cidade que crescia graças à indústria têxtil, que potenciou a ascensão de uma rica e poderosa burguesia.
Eduardo Mendoza nasceu em Barcelona, em 1943. Autor de uma vasta obra, iniciada em 1975 com “A Verdade Sobre o Caso Savolta” – que imediatamente obteve o Prémio da Crítica e se transformou numa obra “fundadora” da nova literatura espanhola –, é hoje um dos vultos cimeiros do panorama literário europeu. Os seus livros foram repetidamente galardoados, quer em Espanha, quer no estrangeiro, e têm sido frequentemente adaptados ao cinema. Em 2016, venceu o Prémio Cervantes, o mais importante galardão de literatura de língua castelhana.
Aqui fica a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.