Termina, esta quinta-feira, o debate na Assembleia da República em torno do Programa de Governo. Na introdução do documento, é desde logo visível que o mesmo se baseia num otimismo sem âncora e que o navio inicia a viagem contando com ventos favoráveis que dificilmente soprarão.
Desde logo, a expressão “virada a página da austeridade” regressa, institucionalizada e oficial, associada à abertura de “um novo ciclo na sociedade portuguesa”. Para o PS, este “é, necessariamente, um ciclo de consolidação da recuperação económica”, este que agora se inicia, chilreando já os passarinhos e desabrochando coloridas flores à beira do caminho, à medida em que o Governo minoritário socialista prosseguirá o seu descontraído passeio em direção ao arco-íris, crentes no inexistente pote de ouro no final.
Os alertas em sentido contrário deste idílico discurso não faltam, sejam eles internacionais ou nacionais. Recentemente, o Banco de Portugal avisou que as exportações deverão desacelerar para 2,3%, abaixo dos 3,8% registados em 2018. Sendo que o consumo doméstico também irá travar, prevendo-se um crescimento de 2,3%, abaixo dos 3,1% verificados em 2018.
Estes sinais de abrandamento económico não são um exclusivo nacional, muito pelo contrário. No final de Setembro, e naquela que foi a sua primeira intervenção enquanto diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva fez uma chamada de atenção para a necessidade de a economia mundial estar preparada para enfrentar a nova crise económica que se antevê, apesar do “doping” na economia pelo BCE, visando atrasar o inevitável.
Para a diretora do FMI, o crescimento da economia mundial continua a dececionar, as tensões comerciais mantêm-se e a dívida alcançou níveis históricos, sendo que a prioridade imediata do FMI é “ajudar os países a minimizarem os riscos de crise e a prepararem-se para lidar com uma desaceleração”.
Em suma, enquanto lá fora os mais avisados se preparam e enquanto cá dentro os analistas alertam que, se a desaceleração da economia mundial se traduzir numa recessão, Portugal também irá ser arrastado, eis que fechamos o debate sobre o Programa de um Governo ainda convencido de que existem oásis.
As bases da nossa economia estão a abanar e os pilares das políticas fiscal e monetária estão a esboroar-se, ao mesmo tempo em que o sistema político, assombrado pela abstenção, denota a necessidade extrema de um novo tipo de contrato social. Aquilo de que se precisa é de realismo, contenção e prevenção. Não do discurso de um governo socialista surdo pelas suas próprias palavras de ordem e cego a todos os avisos.
É de saudar a edição do livro coassinado pelos diretores do “Polígrafo”, Fernando Esteves e Gustavo Sampaio. Numa altura em que as plataformas digitais disseminam o que os próprios autores classificam como uma “epidemia de fake news”, devemos louvar tudo o que seja contributivo para a batalha contra a desinformação, o boato e a calúnia. Este “Viral – A Epidemia de Fake News e a Guerra da Desinformação” é pois de leitura obrigatória.