Das eleições gerais deste domingo não saiu uma solução governativa óbvia e os analistas políticos mantém a ideia de que o impasse político em Espanha vai continuar. O secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, líder do partido mais votado ontem e que é também o primeiro-ministro em funções, apelou a “todos os partidos” para atuarem “com responsabilidade e generosidade” para desbloquearem politicamente o Espanha, prometendo trabalhar na formação de um “governo progressista”. Mas a questão não é tão simples assim.
Um governo coligado entre PSOE e a coligação de extrema-esquerda Unidas Podemos poderá estar em cima da mesa, apesar de ter sido a falta de entendimento entre Sánchez e Pablo Iglésias, líder do Podemos e desta coligação, que ditou a realização das eleições de dia 10 de novembro. O Pablo Iglésias, logo após o anúncio dos resultados eleitorais, pediu a Pedro Sánchez que forme um governo de coligação que faça frente à extrema-direita.
Iglesias classificou o momento de “necessidade histórica”, o que na verdade é uma chamada de atenção para a elevação do Vox, partido de extrema-direita, a terceira força política espanhola. “Uma das mais fortes e poderosas da Europa”, disse o líder do Podemos.
Ainda que o Unidas Podemos tenha perdido força, face às eleições gerais de abril deste ano (menos sete deputados e 653.960 votos), os responsáveis políticos por de trás desta coligação acreditam que o cenário político não mudou e, por isso, há uma possibilidade de uma solução de governo passar por um entendimento entre Iglesias e Sánchez. É que para fazer frente ao bloco de partidos de direita (PP, Vox e Cidadãos alcança 152 lugares), o PSOE precisa do Unidas Podemos (PSOE, Unidas Podemos e Mais País totaliza 158 deputados).
Contudo, de acordo com a imprensa espanhola, o líder da coligação permanece irredutível quanto às condições da Unidas Podemos apoiar um governo do PSOE. O “El Mundo” escreve que Pablo Iglésias, por exemplo, não desiste de uma coligação de governo proporcional; de um lugar no conselho de ministros; quer uma solução definitiva para a Catalunha. Mas quais são as condições de Pablo Iglésias?
Coligação proporcional
Tal como em abril, Pablo Iglesias quer que a coligação Unidas Podemos entre no governo. “[Sánchez] está disposto a negociar um governo de coligação], onde cada partido é “representado exclusivamente na proporção dos votos que conseguiu”, disse Iglesias no domingo. Por isso, sabendo agora que o PSOE obteve 6.752.983 votos e o Unidas Podemos 3.097.185 – menos de metade dos socialistas – e que o governo é composto por 17 ministérios, Pablo Iglesias quererá entre seis a sete ministérios para a sua coligação.
Em abril, Iglésias abriu mão do critério da proporcionalidade para abrir caminho a um governo entre PSOE e Unidas Podemos, algo que o jornal espanhol escreve que não deverá acontecer, a não ser que a solução de governo passe por mais do que dois partidos.
Um lugar no governo para Iglesias
Em abril, a negociação entre Sánchez e Iglesias ficou marcada por um veto pessoal ao líder da coligação Unidas Podemos. Das negociações entre os dois líderes resultou a imagem de que seria Pablo Iglesias que estaria a impedir uma solução de governo entre as duas forças políticas. Na altura, Iglesias aceitou sair de cena mas agora isso pode ser pouco provável. Um entendimento entre Iglesias e Sánchez passa por dar uma cadeira ao líder do Podemos no próximo Conselho de Ministros de Espanha.
Negociação direta entre Sánchez e Iglesias
As negociações de abril entre os dois líderes políticos foi delegada em duas delegações de cada lado da barricada. Agora, Iglesias quererá negociar diretamente com Sánchez
Políticas para “travar” o Vox
A elevação do Vox a terceira força política nacional em Espanha é um dos argumentos a favor de Iglesias, visto que as posições do partido de extrema-direita, liderado por Santiago Abascal, pode levar o PSOE a procurar o Unidas Podemos para suportar políticas sociais. Sánchez disse no domingo que estaria disposto a sentar-se à mesa com as partidos de direita PP e Cidadãos, mas não com o Vox. Tal poderá levar Sánchez a olhar à sua esquerda para “neutralizar” a ascenção do Vox. Como? negociando com o Unidas Podemos medidas para o mercado imobiliário espanhol, para uma reforma laboral, para medidas fiscais, entre outras medias normalmente associadas aos partidos de esquerda.
Solução para a crise catalã
O anúncio das sentenças de 9 a 12 anos sobre vários líderes independentistas catalães fez “explodir” os ânimos na Catalunha. O tema tornou-se numa pedra no sapato para Pedro Sánchez e já tinha sido antes um factor para justificar a falta de entendimento entre PSOE e Unidas Podemos. Pablo Iglesias defende que há “presos políticos” e vê como solução a criação de duas vias de diálogo: uma no parlamento da Catalunha e outra em Madrid. Um possível entendimento, agora, entre Unidas Podemos e PSOE passará também por uma solução na Catalunha.
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