A Anacom anunciou há dias o sentido provável da decisão sobre o modelo de licenciamento das várias bandas de frequência que deverão suportar o tão cobiçado 5G. O período de consulta pública está próximo do seu fim e o formato final será conhecido em breve.
A proposta do regulador rompe com o “continuismo” imperante na atribuição de licenças móveis: garante frequências a um novo operador, a Dense Air, na banda de 3.5 GHz, a mais atrativa e a única com equipamento e telemóveis já disponíveis no mercado; reserva banda para operadores rurais e promete facilitar a abertura e partilha das novas redes com prestadores de serviços sem rede própria.
O potencial disruptivo desta decisão não tem merecido, como era de esperar, o aplauso dos operadores instalados, que verteram queixas sobre a ambiguidade da proposta, o calendário do processo e a assimetria no tratamento dos candidatos. Num assunto tão transcendental para a transformação digital da sociedade, não é fácil encontrar o equilíbrio entre inovação e estabilidade, concorrência e investimento ou encaixe financeiro imediato para o Estado e mitigação da infoexclusão rural. Ou seja, o equilíbrio ótimo entre todas estas variáveis, o ponto (5)G ideal, parece mesmo difícil de encontrar.
Estes dilemas agravam-se pelo facto de ainda não haver aplicações comerciais que permitam explorar plenamente as vantagens deste novo sistema. O simples aumento da velocidade nos mesmos serviços que são hoje adequadamente suportados pelas tecnologias 4G não é argumento suficiente para uma migração massiva.
Durante os próximos tempos, a experiência de ter 5G no telemóvel será equivalente a estarmos permanentemente conectados ao Wi-Fi que temos em casa. Cada geração móvel tem demorado uma década a consolidar-se com uma oferta crescente de serviços e o 5G não deverá ser uma exceção. Por isso, as tensões de hoje respondem mais ao FOMO, “medo de ficar de fora” ou Fear of Missing Out em inglês, do que à utilidade desta tecnologia no curto prazo.
Mas, a prazo, o 5G deverá transformar-se numa tecnologia chave para materializar a “sociedade em rede”, em que grande parte dos produtos que hoje possuímos deverão desmaterializar-se, transformar-se e migrar para uma rede com capacidade, instantaneidade e velocidade muito superiores às atuais. No prazo de uma década, inovações como máquinas autónomas que comunicam entre si e tomam as suas próprias decisões; fábricas totalmente robotizadas e turismo quase-real simulado com realidade virtual farão parte do nosso quotidiano.
Mas nem tudo será maravilhoso. Deveremos acomodar contrapartidas pesadas, como o aumento da poluição eletromagnética, o grande crescimento no consumo de energia e uma pegada ambiental e paisagística muito visível. E, sobretudo, um impacto crescente na nossa privacidade e segurança.
Cada progresso tecnológico revela de forma mais evidente o atraso social da humanidade e é por isso fundamental, perante o poder transformador do 5G, encontrar o sweet spot, esse ponto ideal de equilíbrio entre todas estas oportunidades e ameaças.