Um estudo recente feito no nosso país conclui que as crianças que vivem perto de restaurantes fast food têm mais 30% de probabilidade de serem obesas. “Perto” quer dizer até cinco minutos a pé; daí até alguém vir dizer que para reduzir o problema é proibir os fast food onde vivem crianças vai ser só um passo.

Como se lembraram estas almas de testar tal hipótese? E já agora, os adultos que vivem perto dos fast food também têm mais probabilidade de serem obesos? A partir daqui toda uma gama de novas questões surge: as crianças que moram perto de prisões tendem a ser delinquentes? As que moram perto de universidades acabam professores? E as que vivem perto de manicómios? E se os pais forem talhantes, tendem a ser assassinos? Os filhos dos doceiros são mais gordos que os outros? Se não são, começo a duvidar da conclusão do estudo.

Há mais de 40 anos a Wiley publicou um livro sobre amostragem onde se discutia se as pessoas que praticavam desporto eram mais saudáveis, concluindo que ninguém sabia se eram mais saudáveis porque praticavam desporto ou se praticavam desporto porque eram mais saudáveis.

O que se consegue provar hoje em dia… Harvard até criou os prémios Ig Nobel, atribuídos todos os anos em várias áreas científicas. Há exemplos notáveis!

Silvano Gallus provou que comer pizza evita doenças se a pizza for feita e comida em Itália (veja o “International Journal of Cancer” de 2003), logo o nosso estudo pode não ser válido em Itália; Shigeru Watanabe e colegas publicaram o “Estimation of the Total Saliva Volume Produced Per Day in Five-Year-Old Children” nos “Archives of Oral Biology” e, graças a ele, ficámos a saber o tamanho da cuspidela que nos espera; Mitchell e Wartinger descobriram que andar na montanha-russa cura crises de cálculos renais (“Journal of the American Osteopathic Association”, 2016).

Há investigação que arrepia, como o “Colonoscopy in the Sitting Position: Lessons Learned From Self-Colonoscopy”, de Horuichi e Yoshiko (“Gastrointestinal Endoscopy”, 2006), ou o “Acute Management of the Zipper-Entrapped Penis”, de Nolan e outros (“Journal of Emergency Medicine”, 1990). Mas o pior é o prémio atribuído conjuntamente ao Senhor X, fuzileiro da marinha americana, que tentou curar a mordidela da sua cascavel de estimação com descargas da bateria do carro, e a Dart e Gustafson pelo seu artigo “Failure of Electric Shock Treatment for Rattlesnake Envenomation”.

Agora, o que melhor ilustra esta coisa é Mark Twain, que no “Living in the Mississippi” conta que em 167 anos este rio ficou mais curto uma milha e um terço por ano. Então, qualquer pessoa que não seja idiota pode ver que há uns milhões de anos o rio tinha mais de um milhão e trezentas mil milhas, serpenteando pelo Golfo do México dentro. E daqui a 742 anos terá poucas milhas e Cairo e Nova Orleães estarão no mesmo município. Conclui que há uma coisa notável na Ciência: consegue-se um extraordinário rendimento de um pequeníssimo investimento em factos.