Nesta época do ano é habitual receber correios impessoais cheios de bons desejos que apenas me lembram que o meu endereço está na lista de contactos de alguém, às vezes com o meu pesar. Estas comunicações causam o efeito contrário do que pretendem, ao sugerir que o remetente não teve o mínimo interesse em dedicar-me uns segundos do seu tempo para personalizar a mensagem. E não há mensagem que substitua uma boa conversa, embora breve, para facilitar uma comunicação plena entre as pessoas.
É paradoxal que, ao mesmo tempo que substituímos as conversas pessoais por mensagens, nos interessemos cada vez mais pelas “conversações” que as marcas têm com as suas audiências; que falemos cada vez mais com máquinas para sermos atendidos ou que as máquinas “dialoguem” entre sim, através de protocolos sofisticados, para estabelecer canais de comunicação entre elas.
A falta de capacidade de dialogar com outras pessoas produz efeitos negativos em todos os âmbitos. No plano político, numa época de fragmentação do voto, dificulta enormemente a formação de governos ou a resolução de crises institucionais, como acontece atualmente em Espanha. Ao nível das empresas, perdem-se negócios porque a falta de comunicação gera desconfiança. Eu, pessoalmente, fui vítima de um processo negocial multimilionário, finalmente acordado através da troca de mensagens por SMS que foram interpretados de forma diferente pelas partes, gerando desconfiança e acabando por abortar uma transação que estava praticamente fechada.
Falamos permanentemente da importância da colaboração, da cooperação a todos os níveis, da criação de ecossistemas e depois falhamos na componente básica que é o diálogo entre as pessoas. Por isso, a vida social e política está a converter-se numa sucessão de monólogos, que provocam ruturas e desencontros. Um exemplo disso é o recente caso de abuso da palavra “vergonha” no Parlamento, que culminou com um cartaz com esse tópico à porta da Assembleia da República. Faltam diálogos individuais e debates sérios sobre temas transcendentes; e sobram recados e mensagens.
As mensagens são utilizadas por 97% dos jovens como canal preferencial de comunicação. Esta “geração muda” está permanentemente ligada mas foge de conversas sérias que comprometem e obrigam a encontrar a resposta certa em tempo real e são, por isso, cansativas e desestabilizadoras. A conexão virtual promove a superficialidade, a criação de falsas personalidades e a falta de empatia, o que provoca dificuldades para enfrentar os problemas reais da vida. Gerir emoções por via digital é negativo: deixamos de perceber a dor e minimizamos o sofrimento.
A era digital pode acabar com as conversações tal como as conhecemos porque o ruído tecnológico fomenta o silêncio social. Trocar ideias e afetos com outras pessoas, de forma próxima e direta, é sempre importante, mas é-o ainda mais na época natalícia. Por isso, nestas festas, deixemos de enviar mensagens e emoticons, desliguemos o telemóvel e comecemos a viver.