O país tem andado tão distraído com a pandemia e as vicissitudes aliadas aos constrangimentos do Sistema Nacional de Saúde, numa discussão que ameaça prolongar-se além das prioridades das listas de vacinação e que relega a reflexão sobre o que nos espera no pós-doença para um plano manifestamente secundário.
Esta discussão pode parecer estratosférica apenas porque enquanto nos preocupamos com o SarsCov2 o país precisa de perceber que caminhos vão ser trilhados no imediato, pelo que não basta apregoar que teremos ao dispor uma bazuca para disparar contra o défice ou a dívida pública.
Apesar de ter saído dos noticiários estaremos em breve confrontados com o regresso a uma realidade de trabalho, produtividade e necessidade de criação de riqueza além das perspetivas e, provavelmente, com novas estruturas mentais para o alcançar e introduzindo novos hábitos.
Temos consciência de que todos seremos convocados a colaborar, agora fora do nosso conforto, na recuperação do país. Assim sendo, é determinante que essa mobilização tenha um sentido positivo e mereça a nossa adesão consciente e convicta. Para tal, é preciso conhecer e compreender o caminho.
Quanto mais cedo isso se tornar um desígnio nacional, mais rapidamente estaremos à frente da recuperação, incluindo dos nossos parceiros europeus, que criaram condições para crescer, e onde cada país aplicará os fundos europeus em opções próprias e adequadas às suas necessidades.
Este desafio coloca-se ao Governo de António Costa, mas a oposição tem aqui a prova de fogo para impor uma alternativa global apelativa e mobilizadora. Construída a partir do centro para a direita bem sabemos que esta tarefa não se fará de declarações bombásticas (populistas e radicais), mas sim de propostas com nexo. O centro-direita, ou como se quer designar agora de direita social, além de se entender e não combater, tem a responsabilidade de mostrar ao que vem. Há cerca de 30 anos que esta direita não consegue chegar a 50% dos votos e há uma década que não alcança uma maioria absoluta no Parlamento.
Independentemente do atual governo de esquerda conseguir manter-se até ao fim da legislatura e apesar do ato eleitoral deste ano, há que saber desconstruir a ambiguidade atual da governação e os sinais de estagnação política que vai revelando. Chegará o momento de a pandemia deixar o primeiro plano e chegará também o regresso à vida normal, onde a desculpa não basta e o erro se torna imperdoável.
Estamos em crer que tal momento está mais perto do que se pensa. Nasce assim o tempo para a direita social, aliás centro-direita, perder complexos, salvaguardar o seu património político e social, responsabilizar a esquerda pela incompetência e encostar a direita radical ao seu canto, apelando aos moderados do centro para um novo projeto. Partir daqui para uma solução que devolva perspetiva e futuro. Hoje não é amanhã. É agora, sem complexos e sem tempo a perder.