A afirmação do economista Medina Carreira é bem conhecida, e hoje convocamos a mesma para título. E sem querer ser negativo ou negativista nos comentários, é difícil deixar passar em branco dois temas relevantes nesta semana.
A insistência dos bancos em contornarem o difícil negócio bancário devido às taxas de juro negativas com a imposição de comissões cada vez mais gravosas, e o tema das aulas online.
A banca não pode cobrar juros negativos e o desespero instalou-se. Os negócios não crescem, as amarras impostas pelo banco central para novos negócios são cada vez mais finas e o mercado bancário, em si, está a mudar. Menos sucursais e menos funcionários não basta para sustentar a atividade. As comissões bancárias passaram a ser um drama para quem paga e os bancos que nunca foram amigos, são agora ainda menos amigos e vão criando dificuldades a empresas e particulares.
Todas as operações são pagas, independentemente de haver acordos com pacotes ou montantes aplicados, o encerramento de contas é altamente burocratizado, o que leva empresas e particulares a deixarem contas em aberto e a pagarem mais comissões, havendo mesmo quem opte por dificultar a vida a cidadãos quando lhes retira cartões de crédito porque a conta tem saldo baixo. Isto é gozar com o pagode.
Mas há outras situações que criam entropias. O encerramento de uma empresa é tão difícil, burocratizado e demorado que continuam dezenas de milhar de entidades abertas mas sem atividade.
Tal como também é difícil, nos tempos que correm, acabar com um contrato de telecomunicações. Qualquer um dos operadores existentes tem equipas para recuperar clientes que querem denunciar contratos, oferecendo outras condições e obstruindo algo que deveria ser simples. E nos seguros há quem prefira pagar os pequenos sinistros perante a opacidade de algumas opções dos seguradores.
Ora, numa sociedade que diz estar mais digitalizada, que quer acabar com o papel e descomplicar os contratos, todas as situações a que assistimos – e que dificultam e criam entropias – são o oposto daquilo que se apregoa. E isto é gozar com o pagode.
Um outro tema quente da semana relaciona-se com as aulas que agora são online, mas que no início deste novo confinamento não o puderam ser. O primeiro-ministro justificou de uma forma pouco percetível o injustificável e que mais não era do que a diferença entre o ensino privado – que estava preparado para o online – e o ensino público, que não escondia a incapacidade de fornecer computadores ou de ter uma tarifa social no acesso à internet.
A obrigação de confinamento de uma comunidade de alunos, professores e outros profissionais envolve mais de dois milhões de pessoas e já teve um resultado altamente positivo, que foi a redução substancial de novos infetados. Esta é a preocupação nuclear de toda a população.
Mas isto não invalida que os eventuais dois meses de confinamento dos estudantes não obriguem à preparação antecipada do regresso presencial. Esta solução é deficitária para os alunos e vamos num segundo ano atípico de interrupção de aulas e de um modelo de ensino que não é atrativo para os jovens. É preciso encontrar soluções.