(Ironicamente, permito-me iniciar esta nova colaboração a falar de despedidas. Para que dúvidas não restem, ao Jornal Económico, aos seus trabalhadores e leitores, desejo uma longa vida. Sem adeus ou sequer intervalos.)

 

Entre entrevistas a um juiz que se diz “saloio” e o regresso de férias, passaram despercebidas duas notícias referentes aos Estaleiros Navais de Viana e que merecem reflexão.

Volvidos cerca de três anos sobre o seu encerramento e simultânea sub-concessão à empresa Westsea, afecta ao universo Martifer, já então ainda mais falida do que os próprios estaleiros, foram realizadas buscas, tendo por base suspeitas de crimes de “administração danosa” e “participação económica em negócio”.

Paralelamente, parte dos antigos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana constituíram um grupo de trabalho, queixando-se de terem sido enganados. Segundo os próprios, as revogações dos seus contratos de trabalho – cujas compensações foram, uma vez mais, suportadas por nós, no montante de 30,1 milhões de euros -, tinham subjacente a ideia que, dos 609 trabalhadores, 200 transitariam para a reforma e os demais seriam reabsorvidos pela já mencionada Westsea. Afirmava-se, então, que o Estado não sabia “construir navios”, sendo que não se conhece qualquer actividade no pós-privatização, deixando-se o nosso país desprovido de um estaleiro que esteja apto, por exemplo, a construir navios de patrulha oceânica.

Obviamente que a dita reabsorção não chegou e, como também parecia evidente desde o início, grande parte destas pessoas não encontrou ainda um posto de trabalho compatível, mantendo-se no Fundo de Desemprego.

Dito de outra forma, o adeus aos estaleiros foi-lhes vendido como um mero “até já” mas, desde esse momento até agora, a factura parece estar a ser suportada pelos contribuintes.

De certa forma, o que sucedeu em Viana não se afasta muito da realidade tão portuguesa de que os lucros são dos “empreendedores” mas os prejuízos são públicos. Encontramos essa mesma fórmula em diversos sectores, no presente especialmente na Banca. Não é preciso relembrar os casos do BPN, do BES ou do BANIF para se perceber que o sistema está montado para que, se as suas primeiras vítimas são sempre os trabalhadores, no final, depois do adeus, a factura vem em nosso nome. E, vindo também no meu, a verdade é que teria gostado de que me tivesse sido pedida a opinião quanto a este exército de desempregados, criado por anteriores “gurus” da gestão, muitos deles, aproveitando o calor que ainda faz, a banhos numa praia qualquer.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.