A lusofonia, enquanto comunidade que identifica países e povos falantes da língua portuguesa, tem vindo a perder apoio político, dinamismo económico e reconhecimento social. A explicá-lo está a instabilidade que, com diferentes cambiantes, se verifica nos países lusófonos: desde a estagnação económica em Portugal à crise governativa e à recessão no Brasil, passando pela queda da economia angolana, pela ameaça de regresso da guerra em Moçambique e pelos difíceis processos de democratização na Guiné e em Timor.

Neste cenário, é difícil defender o fortalecimento das relações económicas de Portugal com os restantes países lusófonos. O que antes era visto como um Eldorado – pense-se, por exemplo, na euforia que rodeou alguns investimentos em Angola – é, agora, tido como proscrito para os negócios. Ora esta perceção generalizada está seguramente a penalizar a cooperação económica com os nossos parceiros lusófonos, com reflexos negativos ao nível do investimento e das exportações.

Bem sei que, nos últimos anos, houve uma degradação das condições para o intercâmbio comercial entre países lusófonos, pelas razões já aqui referidas. Mas também é verdade que, em boa medida, se mantêm inalterados os fatores que fazem da lusofonia um interessante espaço de comércio. Desde logo, o facto de os países lusófonos partilharem a mesma língua e de essa mesma língua ser a quarta mais falada no mundo, como língua materna. Os mais de 250 milhões de pessoas que falam português representam 3,7% da população mundial e possuem 4% da riqueza total.

A partilha da língua tem um forte impacto económico a vários níveis: fomenta as trocas comerciais, promove a internacionalização empresarial, facilita as parcerias entre empresas e dinamiza a transferência de conhecimento. Ora, tudo isto é exponenciado pela economia em rede em que estamos inseridos. Economia, essa, que vive da partilha global e da circulação transfronteiriça de bens, serviços, capital, pessoas e ideias.

Há, contudo, inúmeras vicissitudes a obstaculizar as relações económicas entre os países lusófonos, as quais podem ser ultrapassadas com novos protagonistas, novas plataformas de diálogo e novas metodologias de trabalho. Neste pressuposto, e se me é permitido falar em causa própria, vai ser criada a Federação das Associações de Jovens Empresários da CPLP, durante os Estados Gerais do Empreendedorismo, que a ANJE organiza entre 3 e 8 de outubro. Neste evento, será assinado um protocolo de colaboração entre as várias associações de jovens empresários do mundo lusófono, entre elas a ANJE.

Com esta Federação, pretende-se justamente promover, em moldes diferentes, a cooperação económica no espaço da lusofonia. Queremos que as relações económicas entre países lusófonos se baseiem já não na nostalgia do passado ou no calculismo político do presente, mas sim em fatores de desenvolvimento como o empreendedorismo e a inovação, a I&D e a transferência de tecnologia, o talento e a criatividade.