Tem sido com preocupação que tenho analisado, durante 2016, a evolução dos activos sob gestão a nível mundial dos ‘hedge funds’.
Os ‘hedge funds’ são o veículo de investimento preferencial para os investidores institucionais e sofisticados, nomeadamente fundos de pensões públicos e privados, fundos soberanos, gestoras de activos, fundações, seguradoras, bancos e ‘family offices’.
De acordo com a Preqin – líder no fornecimento de dados estatísticos e informação sobre ‘hedge funds’ que acompanha mais de 22.000 ‘hedge funds’ a nível mundial com um total de activos sob gestão superior a 3 triliões de dólares e mais de 5.000 investidores activos em ‘hedge funds’ –, no primeiro semestre de 2016, o fluxo líquido dos activos sob gestão foi de -34 biliões de dólares. Esta variação negativa não acontecia desde a grande crise de 2009 e, por isso, este dado é, no meu entender, extremamente relevante.
A Preqin informa também que 79% dos investidores acha que, nos últimos 12 meses, a performance dos ‘hedge funds’ não atingiu o retorno esperado e pode assumir-se, logicamente, que uma percentagem significativa não acredita que, num futuro próximo, esse retorno irá melhorar. Pelo contrário, acredita que irá piorar, daí constatarmos, este ano, uma hemorragia de ‘cash’ nos ‘hedge funds’ acima descrita.
Esta previsão de fraca performance futura dos ‘hedge funds’ será, certamente, influenciada pelo facto de vários indicadores mostrarem, claramente, que os mercados accionistas estão sobreavaliados. Desses indicadores, destaco o rácio do valor do índice S&P500 sobre o EBITDA das empresas que compõem o índice, o qual atingiu, no final de Julho, o valor mais elevado de sempre, e também o chamado “Indicador Buffet”, que continua em valores muito superiores aos atingidos antes da crise ‘subprime’, só ultrapassado pelos valores atingidos em 2000, antes da crise da “bolha da internet”.
Tudo isto numa envolvente global de grande instabilidade económica e de incerteza geopolítica em que vivemos, com relevo para a crise existencial dentro da União Europeia, que contempla vários assuntos por resolver no curto prazo, como o Brexit, a crise dos refugiados, as eleições legislativas em França e na Alemanha e o excesso de dívida dos países da Zona Euro, as eleições presidenciais nos EUA, o crescimento assustador do crédito concedido na China, o baixo preço do petróleo que, anteriormente, apresentava uma evolução correlacionada com a do S&P500, e o fraco crescimento do PIB previsto pelos Bancos Centrais das principais economias desenvolvidas.
Assim, e tendo em consideração esta nova realidade – em que grandes investidores institucionais começaram a resgatar o capital investido de veículos de investimentos preferenciais em montantes só vistos na crise de 2009 –, pode concluir-se que um cenário de crise e forte queda dos mercados accionistas e de crédito no curto/médio prazo é plausível e realista.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.