Antigamente, o mais conhecido ‘cluster’ do mundo era Hollywood. Em Portugal, apareceram, periodicamente, pessoas com a ideia de criar uma “Hollywood portuguesa”. Lembro-me de Sintra/Cascais ou algures no Algarve. Claro que nunca tiveram sequência e ainda bem, porque seriam um total desperdício de dinheiro público.

Hollywood não é copiável, mas dir-se-á que os chineses estão tentar. Sim, mas com parceiros americanos. Também se poderá ver a coisa ao contrário: Hollywood arranjou parceiros chineses para cumprir a regulamentação local e está a abrir subsidiárias na China, como, de resto, também na Alemanha, França, México e Índia.

De facto, hoje, a expressão Hollywood exprime uma marca e um sistema que inclui uma poderosa rede de talentos, ‘know-how’ e dinheiro. É mais do que um ‘cluster’ geográfico. As vantagens comparativas (ou competitivas) de Hollywood incluem, para além das dominantes redes de distribuição e de uma capacidade única para a produção de filmes de grandes orçamentos que agradam a audiências de muitas culturas diferentes, dois elementos muitas vezes esquecidos.

Por um lado, a iniciativa privada através de uma organização industrial e de ‘lobby’ ímpar que inclui três entidades mas que fala a uma só voz, coisa que falta na Europa e por toda a parte: Motion Picture Association of America, Motion Picture Export Association e American Film Marketing Association. Por outro lado, o apoio vigoroso do governo federal à exportação de filmes desde o Plano Marshall.

Hoje em dia, o ‘cluster’ mais badalado é Silicon Valley. Segundo o Financial Times, há excursões de executivos de todo o mundo que, tal como quem visita a Capela Sistina, percorrem a cafetaria do Facebook ou dão uma volta no carro sem condutor da Google e compram uma T-shirt. Mas o jornal reconhece que o Valley tem um potencial de “iluminismo” que não deve ser desvalorizado e, por isso, há executivos que ali passam largas temporadas a aprender como a coisa funciona.

Nos EUA, há numerosos outros ‘clusters’ tecnológicos, como Nova Iorque (que ultrapassa o Valley em várias medidas) ou Boston e Austin. Outras cidades americanas, como San Diego, estão tentar copiar o Valley. Londres, Paris, Berlim ou Estcolmo também estão a desenvolver ‘clusters’ tecnológicos. Todavia, tal como Hollywood, o Valley é dificilmente copiável. As vantagens comparativas dos copiadores são, provavelmente, de outra ordem e estarão noutro plano.

Tal como Hollywood, Silicon Valley beneficia, desde o final da Segunda Guerra, do apoio do governo federal através de financiamento à investigação na Universidade de Stanford, elemento crucial para o nascimento e desenvolvimento do ‘cluster’. A lista de vantagens comparativas do Valley evidenciam características intrínsecas à cultura empresarial americana, mas também outras próprias do ‘cluster’, como, por exemplo, maior lealdade à tecnologia do que à empresa onde se trabalha (“job hopping culture” e não observância dos contratos no que respeita à não concorrência quando se deixa uma empresa). Outra das características mais importantes é a proximidade do capital de risco, em média apenas a 15 minutos de distância dos empreendedores.

Scott Stern, do MIT, Mercedes Delgado, da Temple University, e Michael Porter, da Harvard’s Business School, são os autores do estudo “Clusters, convergence, and economic performance” que examinou 41 ‘clusters’ industriais, 589 subáreas de indústrias e 177 regiões dos EUA. Referem que as regiões são muitas vezes aconselhadas a copiar Silicon Valley e a entrar numa guerra global e cara pela aquisição de talentos, mas não aconselham a ir por aí.

Os autores sugerem que as regiões que ganham são aquelas que investem e ampliam a sua vantagem comparativa. Propõem que haja muita experimentação e que devem ser priorizadas as atividades que alavancam aquelas coisas que tornam as regiões únicas, distintas e com significado. Os recursos deverão ser utilizados para analisar e compreender quais são as fontes de vantagens relativas.