Já quase tudo se disse sobre o “Temos de perder a vergonha e ir buscar a quem está a acumular dinheiro”, os aplausos e o repto de Mariana: “Cabe ao PS, se quer pensar as desigualdades, dizer o que acha deste sistema capitalista e encontrar alternativa”. Apelo que ganhou vida nova com a definição marxista de Costa de uma sociedade decente.
Mas, mais que o regresso ao ódio de classes e aos tempos de vivência leninista na casa paterna, importa ir além das justificações para o assalto ao património dos mais ricos ou à devassa de contas bancárias do cidadão comum. Recorde-se o não pagamento de IMI pelos partidos e a indignação face à quebra do sigilo bancário no caso do enriquecimento ilícito dos políticos. Uma classe com muitos licenciados em assalto fiscal e mestres na inversão de valores: quem trabalha e gera empregos é opressor e parasita, já os verdadeiros parasitas, que vivem da espoliação da propriedade alheia, são vítimas.
Como se mais impostos fosse igual a menos desigualdade e a verdadeira catástrofe não consistisse em acreditar que a desigualdade do rendimento é uma catástrofe. Descurando que, ao contrário da desigualdade criada pelo intervencionismo, a gerada pelo mercado enriquece quem melhor serve os outros, enquanto os ricos do Governo usam os outros, para, em nome de promessas virtuosas (a prazo, desastrosas), alargarem o seu poder e o de um Estado de abuso, fraude, manipulação e corrupção.
Um processo que cresceu graças à difusão e aproveitamento da inveja, o sentimento mais poderoso entre as forças motivacionais que causam o declínio de uma civilização. Daí que todas as grandes religiões considerem a cobiça pelo alheio como pecaminosa, imoral e ilegítima.
Um progressismo que foi ganhando fôlego à medida que as prescrições religiosas foram perdendo vigor e se passou a viver num sistema que permite aos “eleitos” utilizar a legislação e a tributação como um meio para satisfazer a sua própria cobiça, como mostra Hoppe em “A democracia, os políticos e o retrocesso da civilização” (site Mises Brasil). Com esta postura, crescerá o número de pessoas obrigadas a prevenir-se e a defender-se, a si próprias e às suas propriedades, contra estas incursões agressivas dos parasitas que ocupam o aparelho estatal.
Do exposto resultam a confusão entre fisco e confisco e o triunfo da ideia de que o Governo existe para benefício de alguns e espoliação de outros. Um País a meter água e enredado na discussão das boas intenções, sem ver que a gravidade está na verdadeira motivação, afinal, o prazer do saque e o apoio descarado às Mortáguas do populismo.