Chegou a Portugal uma nova Idade Média. Agressiva, violenta e dominada por senhores (e senhoras) feudais, movidos pela ganância, tentados pela facilidade com que se pode extorquir quem trabalha, quem poupa, quem constrói, quem investe.
Mariana Mortágua fixou, nos últimos dias, a sua imagem e a sua reputação: propondo roubar aos ricos para dar aos pobres, ganhou um inusitado protagonismo enquanto Maid Marian. Ela antecipou-se ao arqueiro Robin Hood-Costa, adivinhando-lhe o coração, respaldada pelo inefável Little John-Galamba, famoso pela coragem física, abençoada pelo bondoso mas estrito Frei Tuck-César e aplaudida de pé pela totalidade do gangue dos Merry Men. Tudo a despeito do Xerife de Nottingham-Centeno, como habitualmente, resignado e cabisbaixo. Mas o folclore romântico-naif não resiste, infelizmente, a uma análise mais racional da proposta Mortágua. Vejamos:
1.º Feita na Assembleia da República (a primeira vez que um novo imposto foi aí anunciado) – o que reforça a ideia de um Governo sem tino e sem mando;
2.º Apresentada por uma deputada – o que descredibiliza ainda mais Mário Centeno quando se supunha que isso já não fosse possível;
3.º Vinda antes de o Orçamento de Estado estar fechado – o que mostra quem manda e quem se permite fazer birras públicas que trucidam a autoridade do PS;
4.º Seguida de um convite à autora para explicar ao PS o seu pensamento, que culminou numa trovoada de aplausos (com o alto patrocínio de Galamba, embevecido) – o que revela que uma parte substancial dos dirigentes do PS se equivocaram e se filiaram num partido não suficientemente trotskista;
5.º Acompanhada de uma explicação quantitativa (quem tenha mais de 2 mil euros mensais é rico) – o que demonstra que, a partir daqui, tudo é permitido;
6.º Destapando a ideologia subjacente ao “saque Mortágua”, como bem o classificou Rui Moreira: ódio à propriedade privada e à criação de riqueza;
7.º Criando mais, ainda mais, de novo mais, imprevisibilidade fiscal, numa machadada quiçá definitiva em qualquer vontade de investir neste abandonado País.
Não me surpreendo com o Bloco. Transcrevi já, publicamente, extratos do seu programa, onde as suas intenções estão expressas de forma cristalina. Surpreendo-me com um António Costa ajoelhado e timorato, sem pejo em alimentar a imagem de debilidade estrutural que já implementou em Bruxelas.
O BE quer o regresso à Idade Média. É esta a realidade que ninguém parece querer ver, cega pelos holofotes de uma demagogia tonitruante que a comunicação social amplifica.