Após quase uma década do início da crise, os bancos continuam a protagonizar o seu desenvolvimento pelos mais diversos motivos. Ainda hoje é impossível ler um jornal onde não apareçam referências à fragilidade dos seus balanços, às lutas internas de poder ou às ameaças aos seus modelos tradicionais de negócio.
A banca esteve na origem dos problemas macroeconómicos com a crise da dívida privada, que, de forma quase instantânea, se transformou num problema global. Pouco tempo depois, propagou-se à dívida pública e acabou por poluir todos os aspetos da economia e da sociedade, ao ponto de deixar de nos surpreender e, pela via da sua banalização, dificultar a adoção de medidas mais drásticas como a criminalização, que países juridicamente consistentes como os EUA ou a Islândia empreenderam e que se revelaram, à luz dos resultados, muito mais eficazes.
Por isso, não surpreende, mas continua a atormentar-nos, a escalada de problemas no Deutsche Bank ou o escândalo dos cartões ‘black’ da antiga Caja Madrid, agora em julgamento. Esta última situação é ainda mais sensível porque o governo de Mariano Rajoy decidiu resgatar a banca espanhola mas esqueceu-se de tudo o resto, provocando uma crise social de escala bastante superior à vivida em Portugal, que alimentou populismos e um ativismo social que fraturaram a sociedade e que têm impossibilitado a formação de um governo para o país.
Neste âmbito, como em qualquer outra atividade humana, quem controla a linguagem domina o poder. Por isso, a própria terminologia utilizada nestes processos (“resgate”, “recuperação”) tem conotações amáveis, de retorno a uma suposta normalidade que agora descobrimos que foi a verdadeira causa do problema.
No nosso quadro institucional, só os governos e os partidos políticos que os apoiam concentram maior poder que a banca, que é quem os financia diretamente e tem o poder de decisão no financiamento das suas políticas. E, em troca, dispõem do exclusivo governamental para intermediar negócios com um dinheiro que não é deles.
O paradoxo dos bancos é que não sabemos lidar com eles, mas também não podemos viver sem eles. O modelo de banca tradicional parece esgotado e a desintermediação tecnológica poderá capturar uma parte do seu negócio, mas não todo. Os “neobancos” tentam simplificar e credibilizar a sua atividade com fórmulas mais amigáveis, mas que não alteram a essência do seu modelo de negócio. Outras fórmulas mais radicais, como o dinheiro virtual, que tem o mérito de escapar à intermediação dos bancos, dos governos e do seu enviesamento político, levantam igualmente muitas questões que deverão dificultar a sua adoção generalizada. Por isso, o verdadeiro problema que a economia e a sociedade têm com a banca não é a falta de solução para os seus problemas. É a falta de alternativas.