A queda do muro de Berlim redefiniu o alinhamento geopolítico das esquerdas europeias mais radicais. A partir dos anos 90 do século passado, ensaiaram-se alianças aziagas por toda a Europa entre socialistas e partidos da extrema-esquerda, umas vezes para impedirem a direita de governar e outras para reforçarem executivos minoritários. No entanto, a ortodoxia marxista-leninista e revolucionária destes partidos depressa foi esquecida em nome das ambições pessoais e da permanência no poder. Sucederam-se os exemplos em que a esquerda radical acabaria, perversamente, por deixar cair os próprios governos que apoiara ou por precipitar a sua falência.
Em França, a esquerda plural liderada pelo socialista Lionel Jospin, que governou entre 1997 e 2002, lançou os setores médios e operários no desemprego e na precariedade, à semelhança do que fizera Mitterrand. A descida das receitas fiscais, a contração das receitas não fiscais e as despesas incontroladas do Estado na saúde e nos apoios sociais conduziram à derrapagem das contas públicas. O défice orçamental em 2002 foi superior a 15 mil milhões de euros. O retrocesso económico, provocado pelo bloco governamental das esquerdas, foi profundo e levou a resultados irreparáveis, ditando a morte política do próprio Jospin, cujo sucessor seria o democrata-cristão Jean-Pierre Raffarin.
Também em Itália a União da esquerda liderada pelo socialista Romano Prodi governou entre 2006 e 2008. A pretexto de travar a ameaça da direita protagonizada pelo democrata-cristão Silvio Berlusconi, a Refundação Comunista apoiou este governo e influenciou-o a fazer o oposto do que prometera. O consulado de Prodi seria um logro, Berlusconi voltaria a governar e a Refundação Comunista esfacelar-se-ia de tal forma que deixaria de ter expressão.
Em Espanha, o socialista José Luís Zapatero governou entre 2004 e 2011, com o apoio da Esquerda Unida até 2008, ano em que a mesma o acusa de “falhar à esquerda”. Em 2011 é substituído pelo democrata-cristão Mariano Rajoy e castigado nas urnas por não ter conseguido superar a crise financeira promovida pelos acordos selados à esquerda.
Após todos estes exemplos malogrados e não mais repetidos, no próximo dia 26 de novembro fará um ano que, em Portugal, António Costa teima num modelo que se provou não resultar e que foi constituído com a promessa falsa de uma alternativa supostamente moderada e indisponível a derivas radicais. Aliás, João Galamba, um dos “jovens turcos” do PS agora extremado, consideraria, à época, que o seu partido era “o único moderado no meio de dois blocos radicais”: PSD, CDS, BE e PCP. O mesmo António Costa que prometera equilíbrio e moderação segue, agora, na contramão dos interesses da Nação, cedendo perigosamente e, cada vez mais, à agenda revolucionária das forças que o apoiam. Para quando uma deriva ao centro na rota deste PS?