Atrevo-me a dizer que, desde a semana passada, o Mundo está um pouco melhor, agora que tem, não dois Papas como muitos apregoaram, mas dois Homens em lugares cuja influência pode ser decisiva para as relações entre os Estados.
Quer para o Papa Francisco quer para António Guterres, o importante são as pessoas. A economia é importante apenas e quando está ao serviço das pessoas. Para ambos, os números são abstracções sem sentimento ou alma, e a sua importância é muitíssimo relativa quanto comparada com o valor humano em todas as suas vertentes. Vista por este prisma, a gaffe do então primeiro-ministro e agora secretário-geral da ONU, “É só fazer as contas”, toma outros contornos. Lidar com números é fácil, o difícil é lidar e amar as pessoas.
No centro da preocupação de ambos estão os mais desfavorecidos, os marginalizados, os que transbordam dos limites impostos pelas estatísticas e, de entre estes, o olhar preocupado de ambos assenta na crise humanitária dos refugiados, que ninguém sabe ou quer resolver.
O problema é complexo, mexe com a problemática das fronteiras, a cooperação Norte-Sul, a intervenção militar em países soberanos, a economia da guerra e tantas outras questões que aos visados nada dizem. Para estes tudo se resume a uma palavra: sobreviver! António Guterres conhece estes terrenos como ninguém e fará certamente a ponte necessária entre os caminhos de lama dos campos de refugiados e as alcatifas do poder.
À data desta coluna ser lida, estará a decorrer o segundo dia de greve dos funcionários não policiais do SEF. Na conjuntura actual, quer interna quer internacional, este é um serviço de incontornável importância, dada a multiplicidade de funções que integram a sua missão. Com efeito, e embora durante muito tempo – demasiado – tenha sido visto apenas como um Órgão de Polícia Criminal, quer pela Opinião Pública quer, mais grave ainda, pela tutela, o SEF integra funções que vão muito além da mera figura de uma polícia de imigração. Sem estatuto e sem uma correcta integração na Lei Orgânica, trabalham neste organismo quase metade dos seus funcionários, criando-se desta forma uma estrutura a “duas velocidades” estatutárias, hierárquicas e de carreira, o que em nada contribui para um SEF que se quer mais coeso e operante.
A situação leva já duas décadas. Mas, em duas décadas, o paradigma da segurança e da imigração mudou. A face humanista e não policial tomou outros contornos. A luta que encetámos há muito tempo é exactamente pelas pessoas: as que trabalham sem verem reconhecido o seu esforço, as suas competências, e as outras, as que esperam meses a fio por um cartão que tarda em chegar, por um filho ou um membro da família que ainda não podem abraçar. Tudo porque se descurou esta outra face do Serviço: a que, não sendo operacional é, também ela, imprescindível. E o importante, o que conta são as pessoas. Sempre!
A autora escreve segundo a antiga ortografia.