Há sete anos que a APCC publica trimestralmente os “Índices de Tráfego e Vendas em Centros Comerciais”. Esta ferramenta de análise indispensável ao mercado, fundamentada na medição das variações homólogas dos índices, tem espelhado exemplarmente o comportamento das famílias portuguesas no que concerne à frequência e gastos nos centros comerciais nacionais. Temos testemunhado as transformações nos comportamentos de consumo, mesmo as mais ligeiras, ou não fosse a performance do retalho intrínseca à procura interna. De igual forma, são identificados na série estatística os eventos, calendarizados ou não, e as medidas políticas impostas pelo Estado às famílias, cujas reacções não deixam de ser notadas.

Como em todos os quadrantes, também esta indústria sentiu a crise, embora a recuperação tivesse começado a fazer-se sentir logo a partir do segundo trimestre de 2013, dando mostras de uma crescente consolidação do seu bom desempenho ao longo de 12 trimestres consecutivos. Todavia, no segundo trimestre de 2016, voltámos a uma estagnação na variação do Índice de Vendas face a idêntico período de 2015. Ora, como se depreende, os alarmes começaram a soar de modo preocupante.

A expectativa de regresso ao passado deixa o sector em alerta. Os anos difíceis foram superiormente ultrapassados pelos operadores que, fazendo uso das reconhecidas competências desta indústria moderna, lograram promover avultados investimentos na renovação e melhoria dos empreendimentos a todos os níveis; na inovação tecnológica do negócio; e no desenvolvimento dos serviços voltados para o cliente final. Também a performance da actividade não passou despercebida aos grandes fundos de investimento imobiliário internacionais, tendo o ano 2015 registado valores sem precedentes, quer em número de operações, quer em volume total transaccionado. Por todas estas razões objectivas, é fundamental estar atento aos próximos indicadores, esperando que não confirmem uma tendência negativa – um cenário que não seria surpresa se viesse a concretizar-se.

Ainda estamos a tempo de evitar uma situação que implicaria graves consequências no emprego, embora as medidas preconizadas no Orçamento para 2017 deixem poucas dúvidas sobre o caminho traçado, especialmente nas questões relacionadas com a tributação do património imobiliário, num inqualificável movimento que irá sobrecarregar ainda mais a classe média e reduzir o investimento.

Haja esperança em que o debate deste orçamento abra uma janela de equilíbrio e sensatez, e promova medidas próprias de um país da União Europeia. Não podemos esquecer que os nossos parceiros, credores e agências de ‘rating’ estão focados em todos os pormenores que emanam da Assembleia da República e, como tal, não temos espaço para manobrar ao sabor dos caprichos e das diferentes lógicas dos partidos da maioria parlamentar, presentemente instalada no poder. Seria catastrófico alimentar ainda mais a desconfiança sobre o caminho traçado. Os rumores sobre a necessidade de um segundo resgate a Portugal são cada vez mais audíveis e o momento de apresentação e debate do OE para 2017 poderá ser o ponto de não retorno. Mas ainda estamos a tempo.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.