Muito tenho perorado acerca da realidade económica e da necessidade de alinhar as políticas económicas e fiscais com aquela, sem demagogias e sem dourar a pílula das expectativas constantemente. A realidade, é sabido, convive mal com demagogias e com a arte do faz-de-conta e, mais tarde ou mais cedo, embatemos nela como se duma parede se tratasse, com estrondo e com danos – seja sob a forma de ‘ratings’ miseráveis, de juros astronómicos, de buracos indisfarçáveis no tecido económico, da rutura de serviços públicos ou de resgates das troikas.
Parece-me que a melhor arma de que dispomos contra a demagogia e as suas graves consequências é a transparência. Transparência de programas, de intenções, de motivações, de comunicação e de objetivos. Sempre me incomodou, e disso venho dando conta, a falta de transparência (entre outras coisas) com que partidos como o PCP e o Bloco de Esquerda se apresentam em público e aparentam jogar o jogo democrático pelas regras, travestidos daquilo que não são – partidos democráticos, europeus e amigos da economia.
Na atual conjuntura, esses partidos participam no jogo em questão com particular mestria e assinalável sucesso, se descontarmos as consequências futuras sobre a base eleitoral em que ambos assentam – apoiam e chantageiam um Governo encravado entre compromissos europeus e promessas de fidelidade a secções da cartilha comunista e trotskista, convictos de que esse poder temporário alavancará maior poder nas urnas no futuro, o Bloco em constante fuga para a frente e o PCP à procura de espaço para respirar. Seja como for, ambos conseguiram, por ora, impor a António Costa uma agenda caracterizada por uma lista de ofertas e promoções – em que cabem reversões, reposições e aumentos – sem grandes preocupações subjacentes com a conta no final do dia, uma vez que basta semear impostos indiretos à esquerda e à direita, atropelando as empresas, comprometendo o investimento nacional e repudiando ostensivamente o investimento estrangeiro. O Orçamento do Estado para 2017 será recordado como o orçamento que atrasou gravemente a recuperação económica, que atacou descaradamente o património resultante da poupança e do investimento e que traiu, uma vez mais, a confiança de empresas e empresários.
Mariana Mortágua, todavia, prestou um tributo fundamental à transparência e a todos nós. Afirmou ela que “o Bloco é contra a condição de recursos, sempre foi contra e sempre será contra. Vai contra a matriz do pensamento do Bloco”. Esta simples e cândida confissão desmonta tudo, expõe tudo e revela tudo. O Bloco é a favor da atribuição de prestações não contributivas, independentemente de saber se as pessoas necessitam delas ou se isso é sustentável – nada há a perguntar, nada há a demonstrar. É porque é, nas pensões como no país: como se paga não importa e quanto custa não interessa.
Obrigado, Mariana!