Vivemos num mundo cada vez mais turbulento, imprevisível, complexo e em forte aceleração. Estas características têm vindo a intensificar-se, pressionando-nos a todos a “funcionar”, agir e a manter a nossa relevância, e, em alguns casos, a nossa própria existência, num ambiente cada vez mais desafiante.
Lidar com a incerteza
É comummente aceite que vivemos num mundo imprevisível. Mas o que significa isto? Não entrando pelas definições de incerteza e distinção entre incerteza e risco, podemos de forma simples afirmar que todos somos “convidados” a agir e a decidir perante múltiplas incertezas. Algumas destas incertezas chamamos de “Incertezas Cruciais” pelo facto de terem um forte impacto no nosso futuro.
Façam a seguinte pergunta: quais as principais incertezas cruciais que a vossa organização, a vossa equipa ou projeto irão enfrentar no futuro? Quais os impactos que poderão ter e como pensam incorporar essas incertezas nos vossos processos de decisão?
É precisamente pelo facto de vivermos num mundo imprevisível, em que somos confrontados com múltiplas incertezas, que devemos aceitar um facto que aparentemente é uma evidência para todos: não é possível prever o futuro!
Não sendo possível prever o futuro, podemos dizer que o futuro não deve ser encarado como uma linha unívoca que projetamos no futuro a partir de extrapolações de tendências passadas. O futuro é um espaço de possibilidades.
Construir e explorar futuros possíveis – cenários
Neste sentido, em vez de cedermos à tentação de pensarmos no futuro como algo que podemos prever e quantificar, devemos ser capazes de dominar um conjunto de conceitos e ferramentas que nos permitam pensar e agir em múltiplos futuros. A estes futuros possíveis chamamos cenários.
Os cenários (Scenario Planning) são o método de referência para tomarmos decisões (hoje) em ambientes (futuros) de elevada incerteza. Neste sentido, é fácil perceber a sua popularidade e importância no contexto em que vivemos atualmente.
Carlos Brito – CEO da maior cervejeira do mundo, a AB InBev – afirmava recentemente que “(…) aquilo que sabemos que temos de fazer somos implacáveis e tentamos executar na perfeição. Para tudo aquilo que não controlamos, que é incerto e não sabemos como irá evoluir, construímos e exploramos Cenários.”
Podíamos replicar esta afirmação para empresas tão diversas como a Salesforce, a Shell, a Siemens, a DHL ou a Daimler.
A pandemia global que vivemos desde o início do ano passado veio tornar ainda mais evidente a necessidade de incorporarmos a incerteza e explorarmos cenários nas decisões que tomamos. Múltiplas instituições da UE, incluindo a Comissão Europeia, organizações globais como o World Economic Forum, e consultoras como a McKinsey ou a BCG, têm vindo ao longo dos últimos dois anos a desenvolver cenários de diferentes tipos e com objetivos distintos.
Um convite à antecipação
O nosso futuro individual e coletivo irá depender em grande medida da nossa capacidade de anteciparmos e agirmos sobre o futuro. Os cenários são uma excelente forma de o fazermos de forma organizada, sistemática e útil.