Na azáfama do dia-a-dia raramente pensamos como vivemos. O contexto é importante, isto é, a área profissional, o país, a região, a personalidade dos colegas e chefes, etc., mas nem sempre é claro como racionalizamos tudo isto. Num país como Portugal, em que para se ter um emprego, especialmente um bom, é muitas vezes sinónimo de quem se conhece e está disposto a abrir portas do que de provas dadas, será que ainda nos preocupamos em ser “bons profissionais”?
Falo, claro, sobre quem ainda está em início de carreira e pouco relacionado com profissões ditas técnicas… Mesmo assim, e ainda aí, os factores são vários e deixam quem está de fora um pouco confuso. Num mercado global, o mundo ainda não é, para o bem e para o mal, tão global quanto isso. Portanto, e para aqueles que ficam em Portugal a tentar fazer a sua vida, ser bom ou ser conhecido pode ser, por si só, um grande dilema.
Olho para a Universidade e continuo a ver o reflexo do país, pequeno, às vezes tacanho outras vezes inovador (ainda pouco para meu descontentamento), acessível. Apresento-vos alguns exemplos que são ainda assim ilustradores do que muito ali vai. E aviso: o comportamento é transdisciplinar e pobre, com vícios que ainda temos que combater. Partilhar trabalho, informação, dados – algo que na investigação é, ou deveria ser, a principal bandeira – é todos os dias um risco, especialmente para aqueles que não têm acesso a Universidades de topo (por exemplo, em Lisboa).
Se, por um lado, este acumular de saber é uma empresa colectiva, por outro, dá-se mais valor ao indivíduo, especialmente quanto mais notório for o seu resultado. Assim, não raras vezes se anunciam genialidades cheias de buracos e buracos cheios de genialidade. Atenção esta não é uma realidade de “coitadinhos” nem única e exclusivamente uma nossa realidade. De todo. Aqui vê-se melhor, porque os nomes, as elites regionais, o carimbo dos casamentos, das relações, das escolas são todos mais fáceis de reconhecer. E o que há de errado nisto? Em princípio nada, em princípio tudo quando afecta o desenvolvimento de um país, melhor hoje, acredito, mas ainda tão centrado em si mesmo nestes aspectos.
Continuamos neste círculo infinito onde questionamos todos os dias se o que conta mais é ser bom ou ser conhecido. Na impossibilidade de escolher ambos, prefiro a primeira, mas sei bem que a realidade demonstra que é a segunda opção a mais eficaz.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.