Os resultados eleitorais recentes na Europa e as presidenciais americanas criaram uma convicção de que existe uma significativa vontade de mudança pelo mundo, onde o populismo usa a democracia para se impor contra o centro político e contra um sistema que concentra a desilusão dos cidadãos face a desvios sistemáticos das expectativas que foram sendo criadas.

O ano vai terminar como uma antecâmara de prospetivas perante as várias eleições na Europa que ocorrem no próximo ano em França, Holanda ou Alemanha, entre outras, e na expectativa do levantar do pano em Itália e nos Estados Unidos. O futuro da Europa que se diagnostica agonizante há meses, pode sofrer ajustamentos sérios em 2017. O processo de saída do Reino Unido não será o mar de rosas que os britânicos julgam e os estados membros terão de assumir se querem dar um passo atrás no seu processo de integração para dar dois passos em frente, ou se dão um salto no abismo que alguns preveem.

Este ano será o momento de afirmação de lideranças nos vários países europeus. Da Comissão Europeia aos governos europeus na consolidação do eixo central da Europa, ou da deriva nacionalista e de desregulação comunitária à regressão ao nível dos anos 80, tudo é possível.

A Europa é hoje uma roleta russa. Qualquer disparo pode promover um crescimento da direita nacionalista e mais conservadora, potenciando um reforço do crescimento dos egoísmos nacionais, com particular repercussão nos estados mais débeis e fragilizados. O resvalar à direita de políticas nacionais levará a uma reversão de solidariedade entre estados membros, provocará danos significativos na integração de refugiados e desnivelará ainda mais os países europeus. A anunciada mudança na política americana, mais protecionista, implicará um retrocesso  nas relações económicas e de crescimento entre os dois blocos.

As mudanças no xadrez mundial entre a administração Trump, as complexas negociações do Brexit, as derivas nacionalistas, o conflito no Próximo Oriente, as migrações e a difícil integração dos refugiados, a pressão russa no leste e na Síria ou o enfraquecimento do Brasil, conduzem a cenários de grande perplexidade e com demasiadas variáveis para a melhoria das sucessivas crises que o mundo tem assistido na ultima década.

A Europa irá passar por um teste tremendo nos próximos 12 meses, porventura o mais complexo do seu meio século de existência, porque sistémico e sem líderes reconhecidos de matriz europeia.

Não é o projeto europeu que está em causa. Este mantém-se vivo na sua essência e necessário. Os princípios e valores da construção europeia mantêm-se relevantes. Se as fronteiras – físicas e económicas – se fecharem, os cidadãos contestarão.

A globalização não está em causa. Nem se consegue limitar. O mundo mudou e não é concebível regredir aos individualismos e egoísmos nacionais. O que é contestável é o populismo iletrado e básico que apela aos sentimentos mais primários dos desiludidos, pelas miragens que os defensores de uma nova moral nacionalista fazem crer.

A Europa já não é mobilizável pela paz. A motivação dos europeus será pela prosperidade. E essa tem sido sucessivamente ameaçada. Tem pela frente um compasso de espera, mas tem de demonstrar a força do projeto comum, de riqueza e estabilidade porque este é imparável, mesmo em momentos pontuais de crise.