As notícias em torno do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm surgido a um ritmo elevado e quase que parecem dizer respeito a uma nação do Terceiro Mundo:

   1) “Governo aperta cinto a hospitais em nome do défice. Os hospitais terão de pedir autorização ao Governo para fazer qualquer tipo de investimento até ao fim deste ano, incluindo repor algo que se avarie. E condiciona reposição de stock de medicamentos” (Observador, 30/09/2016);

   2) “Vários doentes estiveram dois dias sem comer e sem ser medicados num hospital público” (Público, 13/12/2016);

   3) “Urgências em risco nas maternidades de Coimbra. Falta de ginecologistas e obstetras está a dificultar o socorro prestado nas unidades públicas do centro do país. Ordem dos Médicos avisa que a situação é “alarmante”, “muito grave” e de “catástrofe iminente” (Expresso, 15/12/2016);

   4) “Urgência, dores e burnout no Hospital de S. José. Este é o caso de um homem de 55 anos que passou cinco dias numa maca na área de Neurociências do Hospital de S. José sem receber a visita de um médico, que esperou 12 dias para fazer uma ressonância magnética e 16 dias para ser operado a duas hérnias discais. Passou 20 dias internado” (Expresso, 15/12/2016).

Também as contas do Estado revelam dois factos relevantes: 1) os investimentos no SNS diminuíram 18,4% até Outubro, quando em igual período de 2015 aumentaram 46,7%; 2) a aquisição de bens (compras de inventários) pelo SNS diminuiu 1,8% até Outubro, quando no mesmo período de 2015 aumentou 4,9%. A acrescer a tudo isto deu-se o regresso das 35 horas no sector público que veio introduzir mais constrangimentos na gestão dos recursos humanos da Saúde.

É verdade que muitas das maleitas do SNS não surgiram só agora. O ponto é que ao invés de estarem a ser tratadas, estão a ser agravadas. Não deixa por isso de ser curioso que aqueles que até há bem pouco tempo gritavam e esbracejavam quando surgia um problema num hospital público, se remetam agora a um silêncio sepulcral.

O serviço público que assegura a protecção da Saúde em Portugal parece assim ter sido transformado numa ferramenta para garantir o cumprimento da meta do défice e dos acordos entre as esquerdas. Mas quais os custos disto para os cidadãos?

A realidade é que enquanto não for adoptada uma visão verdadeiramente estratégica para o SNS – que o coloque como um pilar central da nossa Democracia – o caos não irá desaparecer, e com ele permanecerá o transtorno na vida de milhares e milhares de Portugueses.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.