Com 2017 prestes a começar, justifica-se alguma reflexão sobre as condições macro que se esperam para o próximo ano e o seu impacto nos mercados cambiais.
Note-se que terminámos 2016 com o USD Index – índice que mede o valor do dolár americano em relação a um conjunto de outras moedas, nomeadamente o euro, o iene japonês, a libra esterlina, o dólar canadiano, a coroa sueca e o franco suíço – no valor mais elevado dos últimos 14 anos, como resultado do esperado aumento das taxas de juros de referência pela Reserva Federal (FED) e do já chamado “efeito Trump”.
A expectativa criada pelos mercados com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de Novembro é a de que haja um forte estímulo fiscal com a redução da carga fiscal para as empresas e o aumento do investimento em infra-estruturas, bem como uma forte desregulação do sector financeiro. Tudo medidas que implicam o aumento da inflação e, como consequência, dará razão e justificam que a FED continue a aumentar as taxas de juro de referência nos EUA.
Em 2017, o risco político continuará a ser, muito provavelmente, a principal condicionante europeia. As eleições em vários países da zona euro, a possível continuação de ataques terroristas, o accionar do artº 50º por parte da Grã-Bretanha e a definição, a posteriori, das condições que irão pautar a relação da Grã-Bretanha com a União Europeia, são potenciais causas de instabilidade e de fortalecimento das forças políticas anti-sistema e eurocépticas e, como tal, pouco propícias às tão necessárias reformas fiscais. Neste cenário de manutenção de risco sistémico elevado, não prevejo alteração nas políticas monetárias dos principais bancos centrais europeus, ou seja, manter-se-ão as políticas expansionistas e de taxas de juros inferiores ou perto de 0%.
Na Ásia, é previsível que, no curto prazo, o crescimento assustador do crédito concedido e as restrições políticas que serão impostas na China venham a ter um impacto significativo no risco económico e político. No Japão, é provável que o Banco do Japão tente mais uma vez fazer crescer a liquidez nos mercados por forma a fomentar o crescimento da muito baixa taxa de inflação no seu país.
Nos EUA, penso que o cenário mais realista para o próximo ano é o de que se mantenha a situação actual de quase pleno emprego (taxa de desemprego igual ou inferior a 5%) e de que a taxa de inflação ultrapasse os 2%. Neste cenário, e sendo expectável que o futuro presidente dos EUA aplique algumas das medidas que prometeu na sua campanha, a FED não terá nenhuma razão para não continuar “hawkish” e aumentar duas ou três vezes a taxa de juro de referência.
Em conclusão, e tendo como possível o cenário macro descrito, é previsível que continuemos a assistir, nos próximos meses, ao fortalecimento do dólar americano contra as principais moedas, nomeadamente o euro, o iene, a libra, o renminbi e o franco suíço.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.