Em termos de política internacional, o ano que agora termina provou que qualquer previsão ou prospectiva se transformou num exercício de enorme risco. No entanto, esta época é propensa a este tipo de exercícios. O último artigo de 2016 centra-se, assim, em três eleições que poderão aprofundar a crise vivida pelo projecto europeu.

Holanda

As eleições legislativas na Holanda poderão ser responsáveis pelo primeiro sobressalto eleitoral do ano. Em Março, os holandeses preparam-se para eleger um número muito considerável de deputados do Partido para a Liberdade, liderado por Geert Wilders. As sondagens apontam para uma vitória deste partido de extrema-direita, que questiona abertamente a permanência do país na UE.

França

No momento em que estas linhas são escritas, dá-se por adquirido que a extrema-direita estará presente na segunda volta das eleições presidenciais. Marine Le Pen compreendeu os limites da liderança do pai (Jean-Marie Le Pen), bem como a França dos novos tempos. Lavou a cara da velha Frente Nacional (FN), afastou quadros incómodos, limpou o discurso de referências extremistas e centrou o seu projecto na captação do eleitorado ostracizado pelas alterações no modelo económico. É pouco provável que Le Pen vença as presidenciais e as legislativas, em função do sistema eleitoral a duas voltas. Porém, uma vitória está assegurada: o programa da FN entrou pelo gaullismo, como o demonstra a eleição de François Fillon nas primárias dos Republicanos. O previsível futuro presidente francês representa os sectores mais radicais do seu partido, com um programa económico abertamente liberal e uma visão muito conservadora da sociedade.

Alemanha

No segundo semestre do ano celebrar-se-ão as eleições legislativas alemãs. Apesar dos bons resultados económicos dos 12 anos de governação de Angela Merkel, a sua política em relação aos refugiados abriu uma brecha no eleitorado da CDU/CSU. A Alternativa para a Alemanha, partido que tem vindo a extremar o seu discurso, compreendeu que a falaciosa dicotomia “refugiados/terrorismo” seria a única arma para captar eleitorado conservador e para desgastar Merkel a partir da sua direita. Os social-democratas, que integram a base governamental, não conseguem corporizar uma alternativa e também correm o risco de sofrer um desgaste a partir dos extremos, com o Die Linke (que integra os sucessores do velho partido comunista da Alemanha de Leste) a conseguir captar parte dos eleitorados do SPD.

A única previsão que pode ser feita sem grandes riscos é a da subida do eurocepticismo nestes três países. O tradicional equilíbrio entre centro-esquerda e centro-direita chegou ao fim e já não existem consensos alargados em relação à UE. Tudo é agora mais incerto, como o Brexit demonstrou. Prognósticos, só mesmo no fim… das eleições.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.