As exportações estão a crescer e a devolução de rendimentos e o aumento do consumo não levaram, para já, a um regresso aos desequilíbrios que por várias vezes nos levaram a resgates internacionais. Esta é a forma positiva de analisar a situação. A taça meio cheia.

O reverso da moeda revela, porém, um quadro menos otimista. A economia cresce alguma coisa, mas não o suficiente, estando Portugal a caminho de mais uma década perdida. O défice está controlado, sim senhor, mas à custa de um aumento dos impostos indiretos, de uma redução brutal (menos 28% até novembro) do investimento público e de atrasos nos pagamentos às farmacêuticas e a outros fornecedores do Estado, juntamente com algumas receitas extraordinárias.
As reformas que poderiam estimular a competitividade da economia continuam na gaveta e o risco do País está a aumentar, com a taxa de juro da dívida pública de longo prazo a aproximar-se perigosamente dos 4%, permanecendo acima da taxa de crescimento nominal da economia.

Por fim, a paz social foi alcançada à custa de um entendimento à esquerda que deixou áreas cruciais como os Transportes e a Educação entregues aos sindicatos.
Mas quer isto dizer que 2017 será o ano de todos os perigos, com o diabo ao virar da esquina, como algumas cassandras nos lembram todos dias?
Provavelmente não, a menos que algum choque externo altere radicalmente este estado de coisas. Senão vejamos: António Costa, que provou ser um hábil construtor de consensos, mantém o PCP e o Bloco atrelados à sua solução de Governo. E continua a ter margem orçamental para atender às exigências das diferentes corporações. Com Marcelo em Belém e uma Europa que tudo fará para evitar problemas em Portugal, basta a Costa não levantar demasiadas ondas para o País conseguir passar pelos pingos-da-chuva. Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.

Porém, os riscos existem e é bom estarmos conscientes dos mesmos. Há um que salta à vista: a eventual descida do rating pela agência canadiana DBRS, que nos vedaria o acesso ao apoio do BCE e que, provavelmente, nos lançaria num novo pedido de resgate. Por outro lado, o BCE prolongou o programa de compra de ativos até ao final de 2017, mas reduziu o montante, o que significa que Portugal poderá esgotar a sua quota a partir de agosto. O Governo tem folga financeira para enfrentar a turbulência nos mercados durante algum tempo, mas tal situação depressa se tornaria insustentável. Nesse cenário, esperemos que os principais partidos, com o PS e o PSD à cabeça, saibam colocar os interesses do País à frente de tudo o resto, para manter a confiança dos investidores internacionais e criar condições para um verdadeiro crescimento da economia.
António Costa já demonstrou ser um mestre da tática. Veremos, pois, se é igualmente hábil na estratégia.

Nota: Para lá de todos os riscos e desafios que o País poderá ter de enfrentar, o Jornal Económico deseja a todos os seus leitores, parceiros e anunciantes um excelente ano de 2017. Cá estaremos para, no papel e no online, oferecer jornalismo de qualidade, com rigor, independência e isenção.