A ideia, adoptada várias vezes e em vários espaços, de comparar coisas que não são comparáveis é-me muito cara estes dias. E hoje, essa quase analogia serve perfeitamente para vos falar sobre como os meios de comunicação, por norma, sim por norma, comparam situações que nem sempre o podem ser, e fazem-no mal. Este texto é, sobretudo, para nos fazer pensar, enquanto leitores e enquanto jornalistas, como esse caminho tem resultados pouco profícuos para a sociedade.
O importante papel social dos meios de comunicação é inegável, mas está em mudança, e vejo-o de uma forma muito crítica. Especialistas da área da comunicação, e já agora do trabalho, em geral cientistas sociais que analisam estas problemáticas, têm apontado variadas causas para aquilo que considero ser um progressivo empobrecimento da qualidade das notícias. Isto acontece um pouco por todo o lado e tem-se deteriorado nos últimos anos a olho nu, mas em Portugal deixa-me particularmente preocupada, porque, por acaso, até me importo com o futuro do nosso país e é disso que estou a falar, não nos iludamos.
Das razões de que falava anteriormente, o facto de cada vez mais a profissão de jornalista ser considerada algo banal, não é de todo isenta. Estudei numa escola de ciências sociais, tenho amigos e muitos colegas que se formaram em comunicação social, eram todos excelentes alunos, sim todos, com médias altíssimas de entrada na universidade, o que em Humanidades não é nem simples nem corriqueiro. Muitos deles não seguiram uma carreira no jornalismo, e os que o fizeram não “deixaram de saber escrever e/ou falar” de um dia para o outro. Portanto, por que que é que vemos tantos erros (de conteúdo e de forma) nas notícias hoje em dia?
Certamente a velocidade a que esta profissão se tem que adaptar não ajuda a não errar, assim como os serviços mal pagos, as horas excessivas, enfim, a precariedade da profissão, não ajudam de todo e, a tudo isto soma-se a pressão económica, quer dos grupos detentores dos meios de comunicação social, quer dos editores: há que vender jornais, ter audiências ou, mais recentemente, ganhar cliques. E… para os resultados desejados vale tudo, passou a valer tudo num esquema estranho de sobrevivência.
De quem é a culpa? Não sei, mas defendo que nós, enquanto leitores, devemos procurar ajudar a corrigir a situação, ou pelo menos a minimizá-la. Lermos os cabeçalhos das notícias, nunca os questionarmos, aceitar factos sem serem verificados (tudo aquilo o que os meios de comunicação nos deveriam garantir automaticamente) faz parte deste nosso papel – hoje mais do que nunca.
É por tudo isso que vos venho falar em alhos e bugalhos, em comparar o incomparável, porque estamos muitas vezes no espaço da falácia, dos argumentos nulos, anuláveis, incorrectos, contraditórios e nós, enquanto leitores, temos que os pensar. Não aceitar tudo o que se lê e se ouve é importante para a clarificação das várias realidades que se nos colocam.
Os resultados políticos e sociais extremados de 2016 mostram bem o poder dos meios de comunicação, dos convencionais e dos não convencionais e, por norma, na vida real não há espaço para uma volta alternativa, já que nem sempre temos a chance de voltar atrás. Em muito bom português, temos que gastar tempo, temos todos que melhorar e pensar o que nos rodeia de outra forma. É que este gasto pode ser ganho, só pode ser ganho para que consigamos destrinçar o que se nos apresenta, ou em bom português, perceber imediatamente quando se está a comparar “alhos com bugalhos” e, assim, agir.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.