Somos livres porque Mário Soares esteve do nosso lado contra os comunistas. Não tivesse tido o discernimento e a coragem de o fazer, e a vida da geração dos meus avós, dos meus pais, e a minha, teria sido desgraçada. Por isso estou-lhe profundamente grato.
Mas Mário Soares foi muito mais que esse momento. Era o ‘bochechas’ que perdeu para Sá Carneiro e para quem ia perdendo o centro político. Não fosse Camarate como teria sido a carreira política do então líder do PS?
Soares foi o primeiro-ministro da austeridade que, 30 anos depois, criticou em nome de interesses que, quando necessário, combateu. Ganhou a presidência com coragem e 8% nas sondagens. Mas teve azar com as duas maiorias absolutas de Cavaco.
Implacável, não aceitou que o país não precisasse dele. Entrincheirado numa esquerda à qual não pertencia, defendeu um mundo diferente daquele que ajudou a fazer. O último Soares combatia ainda, mas contra a inevitabilidade do fim, luta para a qual qualquer coisa servia.