(Porque a vida não é só política e os homens não se resumem a esse jogo de tabuleiro em que os peões são, as mais das vezes, as pessoas. Também porque muitos elogiarão, bem melhor do que eu, o político. Escolho, sem dúvida, o Homem e o Advogado.)

Os seus críticos dirão que Mário Soares não foi o único e, muito menos, o primeiro a lutar pela democracia em Portugal. É verdade. Na madrugada de 1 de Janeiro de 1962, ocorreu a que se designou depois como “Revolta do Quartel de Beja”, cujo fracasso acarretou, entre outras, a prisão do meu Tio Avô, Francisco Pestana. Mário Soares foi o seu advogado, a título gratuito, numa altura em que defender em tribunal opositores ao regime não era propriamente um grande curriculum e atraía (ainda mais…) as atenções.

Mais do que ao político, de cujas escolhas, quando tive idade para as perceber, muitas discordei, eu agradeço ao Homem que, um dia, quando tudo era difícil e qualquer movimentação ficava gravada, ousou enfrentar um sistema, um governo e uma polícia, também em nome de familiares meus. Obrigada, Mário.