É atribuída a Sun Tzu a observação de que não há maior perigo do que subestimar o adversário. Com declinações, a reflexão tem sido repetida ao longo da história. Sinal que a lição, apesar de intemporal, nunca está verdadeiramente assimilada? Ou que há sempre quem pense que consigo será diferente?
Ciclicamente surgem decisores que incorrem no erro de avaliar mal o seu poder, ou a sua influência. Sem razão aparente, acreditam que conseguem subjugar o oponente sem qualquer tipo de diálogo. Estes decisores, olham para as dinâmicas nas empresas numa lógica de soma nula e impõem abordagens que potenciam a conflitualidade.
Na verdade, a sua impetuosidade revela inexperiência ou desconhecimento. Inexperiência, ou imaturidade profissional, porque com encurralam o oponente e lhe retiram espaço para compromisso. Desconhecimento porque confirmam não conhecer o contexto e o opositor. Na prática, com a abordagem de soma nula, estes decisores acabam por ser os piores inimigos dos seus interesses.
O resultado acaba por ser quase sempre prejudicial. O que poderia ter sido, desde o início, uma estratégia cooperativa e ancorada em compromissos, acaba por desencadear reacções conflituais desnecessárias.
Não há acordo possível quando uma das partes é encostada às cordas. Inevitavelmente, a colisão de interesses não intermediados tem custos para a marca, tem riscos para a reputação da empresa e, em última instância, potencia uma situação que não serve os interesses de ninguém. Não é isso do domínio do óbvio ululante? Claro que sim. O que constatamos é que esta húbris acontece com uma frequência inesperada.
Não tem de ser assim. A inexperiência e o desconhecimento não são sinónimos de intransigência ou teimosia cega. Com determinação, mas também com bom senso, estas estratégias maximalistas são colocadas na ordem. Tal como um organismo vivo, o corpo reage à anomalia e aos estímulos. Nessa medida, após algumas iterações conflituais, a cooperação ganha espaço de afirmação, prevalecendo o interesse comum entre accionistas, administradores e trabalhadores.
Há quem insista em esquecer que, mais do que potenciar os seus interesses desrespeitando os de terceiros, o diálogo é a melhor solução. Qualquer outra via é uma irresponsabilidade.
Permitam-me, a terminar, uma palavra em causa própria. Os sindicatos responsáveis sabem a que porto se dirigem. Nessa medida, a salvaguarda dos interesses dos trabalhadores nunca deixa de ser o seu referencial. O resto é mera táctica circunstancial e espuma dos dias.
Ora, a tática é flexível e ajustável. A salvaguarda dos interesses dos trabalhadores, porém, não é negociável. Quem insista em encurralar os sindicatos acaba sempre por pagar o preço da sua altivez. Porém, quem opte pela negociação terá, da sua parte, um parceiro na procura de soluções de compromisso.
Invocando o filósofo Lao-Tsé: aquele que conhece o outro é inteligente. Poderia ser de outra forma?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.