Quem nunca teve que fazer mudanças? Todos nós, mais (eu, por exemplo) ou menos frequentemente já tivemos que mudar de casa. A mim calhou-me uma excepcional média de vezes nos últimos anos. A azáfama da organização das caixas e caixinhas, da percepção do amontoado ridículo das coisas que acumulamos, da burocracia própria de coisas simples, como mudar a conta da luz e do gás, ou mais complexas, como organizar transporte de um país para outro, são momentos causadores de grande stress. Mas devemos e podemos contar com o lado positivo de fazer mudanças, ou melhor, esta é a parte em que me tentei focar nas últimas semanas: limpeza de tudo (ou de quase tudo) o que nos pesa, o que está a mais, o que é lixo.

Ainda assim, e estando eu literalmente no meio deste processo, uma questão não deixava de me assolar: mas e se eu jogar fora, perder ou partir coisas que me são extremamente essenciais e importantes? Claro que se podem sempre substituir, mas será a mesma coisa? A minha estratégia foi hierarquizar o que era mais relevante e ser criteriosamente cuidadosa com esses primeiros itens da lista. Foi por isso, e por pensar em mudanças com alguma profundidade, que me lembrei de uma das mais importantes e recentes mudanças de casa. Com isto quero dizer, uma mudança cujo impacto não é só no próprio e nos seus mais chegados, mas igualmente num país e no mundo.

Como todos sabem, desde este mês a Casa Branca tem um novo inquilino e, apesar de eu acreditar que Donald Trump não tenha andado a carregar caixas e caixinhas, sei também que as mudanças que a sua mudança implica têm estado, estão a fazer e irão fazer “correr rios de tinta” e demonstrações de desgosto ou de apoio. Enfim, esta mudança é bem mais emocional para muito mais gente do que aquela que eu fiz ainda esta semana.

São muitas as análises já existentes sobre este evento. Tenho lido interessantíssimas perspectivas a favor e contra das suas tomadas de posição, e apesar de não querer “chover no molhado” cabe-me conscientemente sublinhar um ou dois aspectos que, para já, me parecem absolutamente centrais pensar. E sim, estes são apenas e só alguns, e sim isto é apenas e só uma amostra pequena, figurativa do que é mais do que uma mudança de caixas e caixinhas, decoração e até estilo.

Curiosamente, nos primeiros dias de Presidência, Donald Trump parece entender que é importante ser, como diríamos em Ciência Política, responsivo. Isto é, atender às preferências dos seus eleitores ou, em bom português, “cumprir o que se prometeu”. Nesse sentido, já assinou uma série de ordens executivas – construir um muro com o México, legislar no sentido de facilitar a deportação de imigrantes que não tenham documentos, entre outros –, mas o que é que tudo isto quer dizer? Até agora, nada. Os procedimentos legislativos nos EUA, como aliás em outros países, não são assim tão lineares e não se transformam em realidades de maneira tão eficiente. Isto é, até se manifestarem maiores consequências, trata-se apenas e só de “symbolic politics”.

E, apesar de todo o mundo ser composto de mudança como dizia o Poeta, eu, talvez numa esperança infundada, não deixo de visualizar na cara do Presidente Trump o desagrado e aborrecimento ao ter de se comportar com o mínimo de decoro político a propósito da presença de Theresa May. Essas imagens fazem-me pensar que a mudança de POTUS para a Casa Branca talvez não tenha sido assim tão apreciada por si e que a minha saga com caixas e caixinhas não tenha sido assim tão má.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.