Esta semana tem sido dominada por algo perfeitamente inédito. Os media têm sublinhado o facto de Donald Trump ter começado a assinar decretos-lei para dar um fundo legal às suas promessas eleitorais. Nos comentários mais otimistas era recorrente ouvir-se que o sistema de “checks and balances” dos EUA travaria as iniciativas xenófobas e isolacionistas do novo Presidente norte-americano. Trump apressou-se a subverter esse sistema com demissões e nomeações para cargos chave, bem como, ganhando o apoio dos setores mais conservadores e extremistas da sociedade. Até onde poderá ir é uma incógnita. Tudo dependerá da sua capacidade de aglutinar o seu eleitorado mais fiel.

Não só internamente Donald Trump tem cumprido as suas promessas. Ao nível internacional, hostilizou dois dos países que elegeu como adversários, o México, devido à imigração, a China pela renúncia do TTP (Acordo de Associação Trans-Pacífica de Comércio). Numa opção de política internacional arriscada, Trump opta pela diplomacia bilateral. Forja aliados e cria inimigos que servem os seus interesses imediatos, julgando que consegue sempre surpreender os outros atores internacionais através da sua falta de previsibilidade e de bom senso.

Mas, nem toda a política internacional depende dos EUA. Países como a China continuam a fazer o seu trabalho em diversas áreas de ação externa, seja através do softpower político ou económico ou, ainda, militar.

Numa iniciativa muito interessante da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, em associação com a Cheung Kong Graduate School of Business, com o apoio do AICEP e da Portugal Ventures, esse softpower veio ao de cima, através da apresentação de um programa, o “China Start Program”. O programa visa a criação de um ecossistema de de startups, com grande ênfase para as de carácter tecnológico e inovador. Para além da formação para atração de investimento chinês, a escola de negócios chinesa promove o apoio à expansão para este enorme mercado. Reconhecendo que os EUA ainda são o parceiro preferencial para as empresas tecnológicas, o reitor da universidade chinesa, Bo Ji, apresenta argumentos em sentido contrário. Mostra quadros comparativos e joga com a grande vantagem comparativa da China: o enorme mercado de consumo ainda por cobrir em quantidade e qualidade.

Talvez Donald Trump não tenha notado, mas existem outras alternativas aos EUA, que não são “factos alternativos”. É evidente que uma escalada de tensão prejudica a todos, mas se houver uma boa gestão das políticas internacionais dos vários países, quem terá mais a perder serão os próprios EUA.