Quando se tornou bem erguer a voz contra a postura e o enunciar de uma nova forma de fazer política, mais do que assumir as táticas do novel Presidente dos EUA, importa olhar de perto para o nosso continente.
Lentamente, mas de forma inexorável, constata-se uma alteração no realinhamento político na Europa. Após anos de domínio alternado de partidos socialistas e democratas-cristãos no pós-guerra e, principalmente, depois do colapso do bloco soviético e da decadência de partidos comunistas, o panorama político europeu redesenha-se.
O centro político – símbolo do bem-estar e do mainstream partidário – tem sido posto em causa pelas crises sucessivas que a Europa tem vivenciado na última década. Exemplo maior, o lento, mas firme crescimento da direita nacionalista e extremista em França, que tem merecido atenção, interesse e sequência noutros países. Ou a anunciada progressão da extrema-direita na Alemanha.
Noutra dimensão, temos a ascensão de alguns partidos mais à direita e mais à esquerda, numa aproximação aos extremismos enquanto partidos de oposição, mas mais moderados quando se instalam no poder. Assim foi com o Syriza na Grécia, ou na constituição de novos governos na Dinamarca ou na Holanda. Ou ainda a quase eleição de um candidato de direita nas presidenciais austríacas. Os nacionalismos isolacionistas não ajudam. E conduzem a situações extremas como o Brexit.
A ocorrência de crises sucessivas contribui para esta tendência, mas tal não explica tudo. Não explica a crescente crispação entre os partidos da coligação governamental na Alemanha, nem as mudanças a leste, onde se desliza lentamente para a direita.
Estaremos perante o surgimento de uma nova ordem europeia? Durante meio século forjámos uma Europa unida ou estávamos apenas a estancar as feridas dos conflitos que aqui se travaram? Hoje ultrapassamos os traumas do pós-guerra, embora não necessariamente da melhor forma.
Os vários atos eleitorais previstos para este ano vão contribuir para a definição da tendência de mudança ou para a confirmação do rumo de convergência do caminho europeu. A fuga do centro para os extremos obrigará a uma inflexão no caminho da união da Europa, acentuando as dúvidas sobre a concentração política europeia, a moeda única ou as fronteiras mais ténues. O reforço dos defensores do nacionalismo e do populismo porá em causa as políticas de integração, o modelo social europeu ou a mobilidade europeia.
Uma nova ordem europeia pode estar a nascer do cansaço social e económico, derivado das políticas incompreendidas, e que, no mínimo, obrigarão a repensar estruturalmente a Europa.