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Snapchat vai finalmente entrar em bolsa. Cuidado?

Não é fácil prever o desempenho da Snap Inc. em bolsa. O sucesso desta ação vai depender da capacidade de monetização e de atrair publicidade que justifique a avaliação implícita.
25 Fevereiro 2017, 10h00

A Snap Inc., detentora da famosa rede social Snapchat, vai finalmente entrar em bolsa (durante a próxima semana). Esta entrada tem sido largamente esperada, principalmente depois dos acionistas da Snap Inc. terem recusado uma oferta de 3 mil milhões de dólares por parte da Facebook. Tendo em conta a avaliação que está implícita na entrada em bolsa da Snap Inc., eles tomaram a decisão certa ao não vender. Antecipa-se que a ação inicie a cotação em bolsa com um preço entre os 14 e os 16 dólares, o que implica uma avaliação acima dos 20 mil milhões de dólares. Será que é uma boa oportunidade de investimento?
Começando pela métrica que mais interessa aos investidores deste tipo de empresas, o crescimento do envolvimento dos utilizadores (não, os lucros não interessam nestes casos). O número de utilizadores diariamente ativos (daily active users ou DAU, em inglês) no Snapchat cresceu de 46 milhões no primeiro trimestre de 2014 para 158 milhões no último trimestre de 2016.

Muito bom, mas qual é a margem que este envolvimento dos utilizadores tem para continuar a crescer? No último trimestre de 2016, já só cresceu 3% face ao trimestre anterior, um abrandamento relevante face ao crescimento médio trimestral dos últimos anos, que ainda por cima é justificado pela entrada no mercado do Instagram Stories, um concorrente direto numa das novas funcionalidades do Snapchat. Para além do Instagram, também o WhatsApp introduziu esta semana uma nova função que compete com a funcionalidade mais apreciada do Snapchat, a de que as fotos e vídeos sejam apagados passado algum tempo. Ou seja, é provável que o abrandamento do crescimento dos DAU tenha vindo para ficar. Penso que é razoável e conservador assumir que daqui a um ano o Snapchat continue com menos de 200 milhões de DAU.

Depois do envolvimento dos utilizadores, é importante olhar para a capacidade de monetização da empresa, ou a capacidade de transformar este envolvimento em dinheiro. A Snap Inc. gerou no último trimestre 1,06 dólares por utilizador ativo diariamente (ARPU, na sigla em inglês), que compara muito bem com o que gerava um ano antes, 0,31 dólares, mas ainda fica muito aquém do que gera o Facebook: 4,83 dólares. Estar bem abaixo do Facebook acaba por ser bom sinal porque quer dizer que a empresa ainda está numa fase inicial do ciclo de crescimento e tem margem para melhorar nesta métrica (mas não quer dizer que consiga).

É um pouco inglório estimar até onde é que o Snapchat conseguirá chegar em termos de ARPU, mas aqui reside o segredo da avaliação. Os utilizadores que usam o Snapchat com frequência (não é o meu caso) estão numa boa posição para ter avaliar isto. Têm assistido a mais publicidade no Snapchat? De melhor ou pior qualidade? De marcas muito conhecidas ou não? Tente detetar diferenças em relação a 2016 e extrapolar se o negócio da empresa estará ou não a melhorar. A monitorização deste tipo de tendências ao longo de 2017 pode ser a chave para perceber para onde vai a ação da Snap Inc.

Outros detalhes interessantes acerca deste IPO: 1) os co-fundadores da Snap Inc., Evan Spiegel e Bobby Murphy, planeiam vender um total de 250 milhões de dólares em ações com a entrada em bolsa. É aceitável mas não deixa de ser negativo. Se o potencial da empresa lhes fosse claro, certamente não vendiam.

2) As novas ações que estão a ser emitidas para a entrada em bolsa não têm direito de voto, permitindo aos fundadores manter o controlo. Também é aceitável, e comum no setor tecnológico, mas não deixa de ser desagradável para novos investidores.
É difícil fazer uma recomendação acerca desta ação devido à incógnita sobre a capacidade de monetização do Snapchat. Irá a plataforma conseguir atrair mais publicidade? Precisa claramente de o fazer para justificar a avaliação implícita, e para mim, isso ainda é uma grande especulação.

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